Mucunã – Mucuna pruriens: Propriedades e Aplicações

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Classificação científica

  • Reino: Plantae
  • Ordem: Fabales
  • Família: Fabaceae
  • Subfamília: Faboideae
  • Tribo: Phaseoleae
  • Gênero: Mucuna
  • Espécie: Mucuna pruriens

Introdução

Mucuna pruriens é uma planta pertencente à família Fabaceae. É conhecida popularmente como mucunã, mucunã-de-caroço e olho-de-boi, e encontra-se distribuída nas regiões de Planta proveniente da Índia, reconhecida pelas suas propriedades afrodisíacas. Estimula também a deposição de proteínas nos músculos e aumenta a força e a massa muscular. Aumenta os níveis de L-Dopa, um inibidor da somatostatina. O seu extrato é também conhecido por estimular o estado de alerta e melhorar a coordenação. Essa planta tem sido utilizada há séculos por diversas culturas, tanto na alimentação quanto na medicina tradicional. Neste artigo, exploraremos em detalhes as diversas facetas da Mucuna pruriens, desde sua origem e distribuição até os métodos de cultivo e seus múltiplos usos.

Origem e Distribuição

Mucuna pruriens é nativa das regiões tropicais da África, Ásia e América do Sul. Devido à sua adaptabilidade a diferentes climas e solos, essa planta se espalhou por diversas regiões tropicais e subtropicais do mundo. Ela é cultivada em várias partes do mundo, especialmente em países como Índia, Brasil e Nigéria, onde as condições climáticas são favoráveis ao seu crescimento.

Características Botânicas

A Mucunã é uma planta leguminosa com várias características botânicas interessantes

Hábito de Crescimento: É uma trepadeira vigorosa que pode atingir até 15 metros de altura. Suas hastes são robustas e podem se enrolar em suportes próximos.

Folhas: As folhas são trifoliadas, ou seja, compostas por três folíolos. Os folíolos são ovais a pontiagudos, com uma textura levemente aveludada.

Flores: As inflorescências são racemosas, com flores que variam de roxo a branco. Cada racemo pode ter de 15 a 32 cm de comprimento e conter várias flores.

Frutos: Os frutos são vagens aveludadas, com cerca de 10 cm de comprimento, que contêm de 3 a 7 sementes. As vagens jovens são cobertas por pelos que podem causar irritação na pele.

Sementes: As sementes são achatadas, elipsoides e brilhantes quando secas. Elas são a principal fonte de compostos bioativos, como a L-dopa.

Raízes: A planta possui um sistema radicular profundo, que ajuda na fixação de nitrogênio no solo, melhorando sua fertilidade.

Composição Química

A principal substância presente na Mucuna pruriens é a L-dopa (levodopa), um aminoácido precursor da dopamina, um neurotransmissor fundamental para o funcionamento do sistema nervoso central. Além da L-dopa, a planta contém outros compostos bioativos, como alcaloides, flavonoides e vitaminas, que contribuem para suas propriedades terapêuticas

Variedades

Mucuna pruriens, também conhecida como feijão-de-veludo, possui várias variedades que se destacam por suas características específicas e usos diversos. Aqui estão algumas das principais variedades:

1. Mucuna pruriens var. utilis:

  • Descrição: Esta variedade é amplamente cultivada e conhecida por suas sementes grandes e brilhantes.
  • Uso: Utilizada principalmente na alimentação animal e como adubo verde devido à sua capacidade de fixar nitrogênio no solo.

2. Mucuna pruriens var. pruriens:

  • Descrição: Caracteriza-se pelas vagens cobertas por pelos urticantes que podem causar irritação na pele.
  • Uso: Tradicionalmente usada na medicina ayurvédica e em pesquisas científicas devido ao seu alto teor de L-dopa.

3. Mucuna pruriens var. hirsuta:

  • Descrição: Possui vagens com pelos mais densos e longos, que também são urticantes.
  • Uso: Menos comum, mas utilizada em algumas regiões para fins medicinais e como adubo verde.

4. Mucuna pruriens var. deeringiana:

  • Descrição: Conhecida por suas vagens lisas e sementes de tamanho médio.
  • Uso: Cultivada principalmente como forragem para animais e para melhorar a fertilidade do solo.

Essas variedades são adaptadas a diferentes condições climáticas e de solo, o que permite seu cultivo em diversas regiões tropicais e subtropicais ao redor do mundo

Importância Ambiental

A Mucunã tem grande relevância ambiental, destacando-se como uma planta melhoradora do solo.

  • Fixação de nitrogênio: Como leguminosa, a Mucunã contribui para enriquecer o solo com nitrogênio, favorecendo culturas subsequentes.
  • Controle de erosão: Suas raízes profundas ajudam a estabilizar o solo, prevenindo a degradação.
  • Adubação verde: A biomassa produzida é frequentemente incorporada ao solo, promovendo melhorias na sua estrutura e fertilidade.
  • Fonte de alimento: É também uma fonte de alimento para muitas espécies de animais, incluindo pássaros, mamíferos e insetos.

Importância Econômica

Mucuna pruriens possui grande importância econômica, sendo utilizada em diversas áreas, como:

  • Agricultura: O cultivo da Mucunã também pode ser uma alternativa viável para pequenos agricultores, proporcionando uma fonte de renda sustentável. A Mucunã pode ser plantada isoladamente ou em consórcio com outras culturas. Pelo fato de ser uma planta muito agressiva não tem sido recomendado o seu plantio em culturas muito adensadas.  Ao final do ciclo a Mucunã preta seca formando um manto sobre o solo de alguns centímetros. Esta camada funciona como uma excelente cobertura morta. 
  • Indústria farmacêutica: A L-dopa, um composto presente nas sementes da Mucunã, é utilizado na produção de medicamentos para o tratamento da doença de Parkinson.
  • Alimentação animal: As sementes da Mucunã podem ser utilizadas na alimentação de animais, como aves e suínos.
  • Produto agrícola: Vendida como adubo verde em sistemas agroecológicos.

Importância Cultural

A Mucunã tem uma grande importância cultural em muitas sociedades, pois é utilizada em rituais e cerimônias tradicionais. Além disso, a Mucunã é uma fonte de inspiração para muitos artistas e criadores.

Na Índia, a Mucunã é conhecida como Kapikachhu na medicina ayurvédica, sendo usada há séculos para tratar condições neurológicas e melhorar a fertilidade masculina. Em várias partes da África e da América Latina, ela também é valorizada como alimento básico e por suas propriedades medicinais.

É uma planta que pertence às brincadeiras tradicionais do antigo Brasil rural e semi-urbano através do pó-de-mico. As crianças do passado conseguiam encontrar facilmente essa trepadeira nos lugares de Mata Atlântica e, da sua grande vagem (legume) raspavam os pelos (tricomas) que a recobriam até acumular um pozinho fino.

O pó formado por esses pelinhos é extremamente urticante, e rendia muita coceira ao coitado que o recebesse. Era um passatempo usual nas salas de aula ou lugares de aglomeração humana, principalmente nas cidades menores. Essa coceira é graças a uma enzima de nome mucunaína,  presente nos frutos, e fazia a vítima se coçar que nem um macaco, daí o nome.

As sementes de várias espécies de mucunãs são extremamente ornamentais, sendo usadas em diversos tipos de artesanato, principalmente nas cidades litorâneas com rios nas praias, que recebem as sementes duras e brilhantes carregadas dos rios que cortam a floresta em direção ao mar. Muita gente conhece essas sementes de encontros fortuitos na areia e as guarda, sem imaginar que tipo de planta veio.

Uso Culinário

As sementes da Mucunã podem ser consumidas após o devido processamento, que inclui a remoção de compostos tóxicos. Elas são frequentemente utilizadas em pratos tradicionais, especialmente em algumas regiões da Índia,  onde podem ser consumidas cozidas, torradas ou em forma de farinha, sendo utilizadas em diversas preparações, como sopas, ensopados e pães. Em algumas regiões da América Central e do Sul, as sementes são torradas e moídas para fazer um substituto do café, também conhecido como café berão.

Uso Medicinal

A Mucunã tem sido usada por séculos na medicina tradicional para tratar diferentes doenças, incluindo a impotência, a infertilidade e a doença de Parkinson. A planta contém um alcaloide chamado L-DOPA, que é um precursor da dopamina, um neurotransmissor importante para o controle motor e a regulação do humor. Algumas das principais indicações terapêuticas incluem:

  • Doença de Parkinson: A L-dopa é o principal tratamento farmacológico para a doença de Parkinson, e a Mucuna pruriens é considerada uma fonte natural desse composto.
  • Depressão: A dopamina está envolvida na regulação do humor, e a Mucuna pruriens pode auxiliar no tratamento de quadros depressivos.
  • Desempenho sexual: A planta é utilizada em algumas culturas como afrodisíaco, devido à sua capacidade de aumentar os níveis de dopamina, que está relacionada ao desejo sexual.
  • Doenças neurodegenerativas: A Mucuna pruriens tem sido estudada por seu potencial no tratamento de outras doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer.
  • Doenças inflamatórias: A planta possui propriedades anti-inflamatórias, podendo auxiliar no tratamento de doenças como artrite e asma.

A Ayurveda é sem dúvida o sistema mais antigo de medicina no mundo – e a única medicina tradicional para estar baseada em princípios científicos. O uso da erva M.pruriens na medicina aiurvédica vêm de épocas de mais de 4500 anos atrás. M.pruriens tem um perfil bioquímico fascinante, contendo uma grande quantidade de ingredientes ativos como a nicotina, serotonina e L-dopa (ou di-hidroxifenilamina) – o precursor principal do neurotransmissor dopamina, isolado por cientistas índios em 1936. 

Quando a dopamina produzida pelos neurônios são afetados pela doença de Parkinson, resulta em tremores incontroláveis, rigidez dos músculos, dificuldades para falar, escrever e se equilibrar e lentidão de movimentos. A deficiência subclínica de dopamina é responsável pelo sentimento de depressão e falta de desejo sexual.

A Dopamina é considerado o neurotransmissor “feelgood”, produzido pelo cérebro quando se quer “estar contente” ou der ao corpo uma “recompensa”. É também um intermediário na produção de norepineprina (ou noradrenalina, o neurotransmissor que nos desperta do sono) e é efetivo a estimular a produção do hormônio de crescimento (HgH).

Em um estudo comparativo com animal na doença de Parkinson na qual quantidades iguais de princípio ativo eram usadas, Mucuna pruriens extrato foi mostrado para ser duas a três vezes mais efetiva que o L-dopa sintético. Isto sugere que seja o perfil bioquímico da erva como um todo, e não só o princípio ativo, que é responsável por aumentar sua efetividade significativamente tratando sintomas da doença. Estudos humanos também mostraram benefícios neurológicos importantes para M.pruriens, e ao contrário do L-dopa sintético – tolerância excelente e quase nenhum efeito colateral. 

É provável que quando se toma um extrato da erva juntamente com Tribulus Terrestris aumenta a quantidade de L-dopa que alcança o cérebro. Tribulus contém um inibidor moderado de monoamina oxidase, uma enzima degradante da dopamina. Este modo natural de melhorar os efeitos de M.pruriens foi reconhecido por médicos Aiurvédicos durante mais de 1000 anos. 

Tomando Mucuna pruriens extrato padronizado em L-dopa estimula a secreção de hormônio de crescimento (Hgh) pela glândula pituitária. O Hormônio de crescimento é indubitavelmente o hormônio anti-envelhecimento mais poderoso: encoraja a massa muscular e desencoraja a gordura de corpo, melhora a força e nivela a energia, aumenta o senso de bem-estar e tem uma influência positiva em muitos outros aspectos de saúde. 

M.Pruriens também é usado na medicina aiurvédica, para: restabelecer a libido (junto com Tribulus Terrestris) aumentar os níveis de testosterona (como mostrado em um estudo controlado) e dopamina; em casos de esterilidade masculina e feminina (aumentando a contagem de esperma e encorajando a ovulação), melhorar a agilidade mental, coordenação motora e tratar condições de apatia.

Mecanismo de Ação:

Estudos clínicos e pré-clínicos mostram que Mucuna pruriens tem grande importância no tratamento da doença de Parkinson. Foram tratados sessenta pacientes com a doença de Parkinson com Mucuna pruriens em um estudo aberto durante 12 semanas. Estatisticamente, houve reduções significantes na doença de Hoehn e de Parkinson unificado mostrando taxas de contagem do início ao término do tratamento.

Mucuna pruriens também mostrou estimular a testosterone-enantato induzido pela atividade androgênica observada em um grupo de indivíduos tratados. Estudos também mostraram que as sementes de M.pruriens podem provocar um aumento significante na contagem de espermatozoides, vesículas seminais e próstata dos ratos albinos tratados. Estudos farmacológicos mostraram sua utilidade como estimulante de SNC, anti-hipertensivo, estimulante sexual e mais.

Efeitos Colaterais:

Embora seja considerada segura em doses moderadas, seu uso pode causar:

  • Náuseas, vômitos e insônia em altas doses.
  • Reações alérgicas ao contato com os pelos urticantes das vagens.
  • Contraindicações para gestantes, lactantes e pessoas com distúrbios psiquiátricos.
  • É importante que o uso seja orientado por profissionais de saúde.

Contraindicações:

• A semente pode causar problemas de nascimento e estimular a atividade uterina. Deve ser evitado por mulheres durante a gravidez. 

• Mucuna pruriens mostrou ter a habilidade de reduzir o açúcar do sangue. Aqueles com hipoglicemia ou diabetes devem usar somente sob supervisão médica. 

• É contra indicado em combinação com inibidores M.A.O. 

• Possui atividade androgênica, aumentando os níveis de testosterona; pessoas com síndromes andrógenas excessivas devem evitar o uso.

• Mucuna pruriens inibe a prolactina. Caso você tenha uma condição médica resultando em níveis inadequados de prolactina no corpo, não use a menos que sob supervisão médica.

• A semente contém alta quantidade de L-dopa. Levodopa é o medicamento usado para tratar doença de Parkinson. Pessoas com doença de Parkinson devem apenas usar sob supervisão médica ou um indivíduo qualificado.

Produtos à Base de Mucunã

A partir da Mucuna pruriens, são produzidos diversos produtos, como:

  • Cápsulas: Contendo o extrato seco da planta, são utilizadas para o tratamento de diversas doenças.
  • Pó: O pó da semente pode ser adicionado a sucos, smoothies ou outras preparações.
  • Chá: O chá de Mucuna é utilizado para tratar diversos problemas de saúde.
  • Extratos: Extratos líquidos em formulações fitoterápicas.
  • Sementes: Sementes embaladas para uso culinário ou plantio.
  • Rações: Rações enriquecidas para animais.

Cultivo

A Mucunã é uma planta relativamente fácil de cultivar, mas requer algumas condições específicas para crescer bem.

Clima e Temperatura

  • A planta cresce melhor em regiões tropicais e subtropicais, com temperaturas entre 20°C e 30°C.
  • Tolerância a climas tropicais
  • Sensível a geadas

Solo

  • Prefere solos bem drenados e ricos em matéria orgânica.
  • Tolera solos pobres, mas cresce melhor em pH entre 5,5 e 7,0.
  • Ricos em matéria orgânica
  • Evitar solos compactados

Irrigação

  • Necessita de irrigação regular, especialmente em períodos de seca prolongada.
  • Evitar o encharcamento para prevenir doenças fúngicas.
  • Sistemas de gotejamento
  • Frequência conforme estação

Adução

  • A aplicação de esterco ou compostos orgânicos é recomendada.
  • Não exige fertilizantes nitrogenados, devido à fixação natural de nitrogênio.

Espaçamento

  • O espaçamento normalmente recomendado é de 50 centímetros entre filas e com 6 a 9 sementes por metro de sulco. 

Controle de Pragas

  • Insetos como lagartas podem atacar a planta, sendo necessário controle biológico ou químico adequado.
  • A rotação de culturas ajuda a minimizar problemas fitossanitários.

Poda

  • Eliminação de ramos doentes
  • Estímulo ao crescimento
  • Controle de formato
  • Período: início do desenvolvimento

Colheita

  • As sementes são colhidas quando as vagens secam, sendo necessário cuidado para evitar o contato direto com os pelos urticantes.
  • 6-12 meses após plantio
  • Coleta manual
  • Época seca
  • Secagem adequada

Rotação de Culturas

  • Frequentemente utilizada em sistemas agroecológicos para recuperar solos exauridos.
  • Trabalhos científicos concluem que o plantio da mucunã em consórcio com o milho após os 75 dias do plantio deste (do milho) não interferem na produtividade do milho e nem atrapalham a sua colheita podendo esta ser mecanizada. Agricultores que plantam a mucuna em lavouras de milho com mais de 45 dias e que antecipam a sua colheita em 10 ou 15 dias não têm tido dificuldades na condução do processo.

Condições Locais

  • Adapta-se bem a condições locais de baixa fertilidade, sendo uma excelente escolha para agricultores de pequenas propriedades.

Considerações Finais

A Mucunã é uma planta versátil que oferece benefícios ambientais, econômicos e medicinais significativos. Seu uso sustentável pode contribuir para sistemas agrícolas mais produtivos e para o bem-estar humano, desde que processada e consumida de forma adequada.

 

 

 

 

Fontes:

  1. Mucunã – Mucuna pruriens: Propriedades e Aplicações
  2. Mucuna (Mucuna pruriens) – Ervas e Plantas
  3. Mucuna Pruriens: O que é, Para que Serve e Efeitos Colaterais
  4. Mucuna pruriens: conheça todos os benefícios para sua saúde
  5. Mucunã – Embrapa
  6. Pubmed – Mucuna pruriens in Parkinson’s disease
  7. Repositorio UFC – Avaliação da administração crônica de Mucuna pruriens
  8. Scielo – In vitro evaluation of Mucuna pruriens