Aroeira: Uma Árvore de Múltiplas Faces e Algumas Confusões

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Classificação científica

Reino:        Plantae

Divisão:      Anthophyta

Classe:       Magnoliopsida

Ordem:       Sapindales

Família:      Anacardiaceae

Introdução

A aroeira é uma árvore que desperta grande interesse, tanto por suas propriedades medicinais quanto por suas características ornamentais. No entanto, o nome “aroeira” é utilizado para designar diversas espécies de plantas, o que pode gerar certa confusão. As três mais conhecidas são a Lithraea molleoides (Aroeira-brava), Schinus molle (Aroeira-mansa) e a Myracrodruon urundeuva (Aroeira-do-sertão). Neste artigo, vamos explorar as características, usos e cuidados dessas espécies, além de esclarecer algumas dúvidas comuns.

Aroeira-brava

Aroeira-brava, conhecida cientificamente como Lithraea molleoides, é uma planta nativa do Brasil e do Uruguai. Também conhecida como aroeira-branca, aroeirinha, aroeira-do-brejo, aroeira-da-capoeira e bugreiro, esta planta tem uma ampla distribuição e diversas aplicações. É uma árvore que pode atingir entre 6 e 12 metros de altura. Ela se destaca por sua capacidade de se adaptar a diferentes tipos de solo, ocorrendo tanto em áreas secas quanto úmidas. Suas folhas são perenes e a planta é considerada uma espécie pioneira, contribuindo para a recuperação de áreas degradadas.

Características

  • Copa: A copa é tortuosa, com tronco que pode ter de 30 a 40 cm de diâmetro.
  • Folhagem: Suas folhas são compostas e alternadas, apresentando vários folíolos em cada folha. Elas possuem uma coloração verde-escura, e a sua superfície é lisa e brilhante. Essas folhas são responsáveis pela liberação de substâncias voláteis que podem causar reações alérgicas em algumas pessoas.
  • Flores: As flores são pequenas e geralmente esbranquiçadas ou amareladas. Elas crescem em inflorescências do tipo panícula, apresentando-se em aglomerados densos. Essas flores, embora discretas, são parte importante do ciclo de reprodução da planta.

Uso

A Aroeira-branca, tem várias utilizações, embora seja importante considerar suas propriedades alergênicas:

  • Medicina Tradicional: Em algumas culturas sul-americanas, partes da planta são utilizadas em remédios tradicionais devido a suas supostas propriedades antimicrobianas.
  • Madeira: A madeira pode ser utilizada para pequenos trabalhos de carpintaria, embora não seja frequentemente explorada em grande escala.
  • Culinária e Aromas: As folhas e cascas são ocasionalmente usadas para infusões e temperos, mas com grande cautela devido ao risco de reações alérgicas.
  • Estudos Científicos: Devido ao impacto que suas substâncias voláteis podem ter, a planta é objeto de estudos relacionados a alergias e dermatites de contato.

Contra-indicações

Em todas as partes da planta foi identificada a presença pequena de alquil-fenóis, substâncias causadoras de dermatite alérgica em pessoas sensíveis. Sentar-se à sombra desta aroeira implica grandes riscos, pelos efeitos perniciosos que pode provocar. As partículas que se desprendem de sua seiva e madeira seca podem causar uma afecção cutânea parecida com a urticária, edemas, febre e distúrbios visuais. Devido a estas propriedades alergênicas, seu uso é limitado e não recomendado para paisagismo em áreas públicas ou residenciais.

O uso das preparações de aroeira deve ser revestido de cautela devido à possibilidade de reações alérgicas na pele e mucosas. Caso isto aconteça, suspenda o tratamento e procure o médico o mais cedo possível.

Curiosidades

A espécie Lithraea molleoides é responsável por casos mais graves de dermatites fitogênicas. Estas dermatites são desencadeadas por ação alergizante, na qual as lesões dependem da prévia sensibilização do sistema imunológico (Ellenhorn & Barceloux, 1988). Os componentes alergênios de toda a família estão em um grupo de substâncias denominadas coletivamente de “urushiois”. Quimicamente, trata-se de substâncias com núcleo catecólico e de cadeia alifática saturada ou insaturada, com 15 a 17 átomos de carbono. São extremamente lipofílicas e acumulam-se nas membranas celulares.

Aroeira-mansa

A Schinus molle, conhecido como aroeira-mansa, pimenteira-falsa, aroeira-salsa ou aroeira-do-Peru, é uma árvore que também pode atingir alturas significativas, sendo apreciada por sua madeira e por suas propriedades ornamentais. É uma planta que se adapta bem a climas áridos e semiáridos, sendo frequentemente utilizada em paisagismo.

Características

  • Altura e Porte: É uma árvore de médio a grande porte, podendo atingir de 5 a 15 metros de altura.
  • Copa: A copa é ampla e densa, proporcionando sombra e abrigo para diversas espécies de fauna.
  • Folhagem: Possui folhas compostas, alternas e pinadas, que conferem à planta uma aparência graciosa e pendente. As folhas têm um aroma característico e são frequentemente usadas por seu potencial aromático.
  • Frutos: Os frutos são pequenos, do tipo drupa, vermelhos ou rosados quando maduros, e têm um sabor ligeiramente picante. Embora sejam por vezes chamados de “pimenta rosa”, devem ser usados com cautela devido ao potencial efeito tóxico em altas quantidades.

Uso

A Schinus molle L., ou aroeira-mansa, é uma planta versátil utilizada em diversos contextos. Aqui estão alguns dos principais usos:

  • Uso Medicinal: A planta inteira é utilizada externamente como anti-séptico no caso de fraturas e feridas expostas. O óleo essencial é o principal responsável por várias atividades desta planta, especialmente à ação antimicrobiana contra vários tipos de bactérias e fungos e contra vírus de plantas, bem como atividade repelente contra a mosca doméstica. Este óleo essencial, rico em monoterpenos, é indicado em distúrbios respiratórios. É eficaz em micoses, candidíases (uso local) e alguns tipos de câncer (carcinoma, sarcoma,etc.) e como antiviral e bactericida. Possui ação regeneradora dos tecidos e é útil em escaras, queimaduras e problemas de pele. Externamente, o óleo essencial da aroeira brasileira utilizado na forma de loções, gels ou sabonetes, é indicado para limpeza de pele, coceiras, espinhas (acne), manchas, desinfecção de ferimentos, micoses e para banho. Em muitos estudos in vitro, extratos da folha da aroeira brasileira demonstram ação antiviral contra vírus de plantas e apresentam ser citotóxicos para 9 tipos de câncer das células. Para Gota, reumatismo e ciática – Banho. ferver 26g de cascas de aroeira em um litro de água. Tomar, diariamente, um banho de 15 minutos, tão quente quanto possível. Um ensaio clínico feito com extrato aquoso das cascas na concentração de 10% aplicado na forma de compressas intravaginais em 100 mulheres portadoras de cervicite e cervicovaginites promoveu 100% de cura num período de uma a três semanas de tratamento.
  • Culinária: Os frutos da Schinus molle, embora tenham um potencial levemente tóxico se consumidos em grandes quantidades, são usados como condimento, conhecendo-se como “pimenta rosa”. Eles são frequentemente usados em misturas de pimenta e como enfeite em diversos pratos. A pequena semente do fruto da aroeira vermelha, redondinha e lustrosa, inscreve-se entre as muitas especiarias existentes e que são utilizadas essencialmente para acrescentar sabor e refinamento aos pratos da culinária universal. O sabor suave e levemente apimentado da aroeira vermelha, bem como sua bonita aparência, de uso decorativo, permite o seu emprego em variadas preparações, podendo ser utilizada na forma de grãos inteiros ou moídos. No entanto, a aroeira é especialmente apropriada para a confecção de molhos que acompanham as carnes brancas, de aves e peixes, por não abafar o seu gosto sutil. Introduzida na cozinha européia, com o nome de aroeira poivre rose (pimenta-rosa), a aroeira vermelha acrescentou um gostinho tropical à nouvelle cuisine.
  • Ornamentação: Esta árvore é popular em jardinagem e paisagismo devido à sua resistência e aparência distinta. Ela fornece sombra e embeleza ruas e parques em várias cidades.
  • Uso Industrial: O óleo essencial extraído da Schinus molle é utilizado na fabricação de produtos de fragrância e aromaterapia.
  • Outros Usos: Tem sido utilizada em práticas de controle de pragas por suas propriedades repelentes para certos tipos de insetos.

Curiosidades

Seus frutos são utilizados na Flórida para decoração de Natal, o que lhe conferiu a denominação de Christmas-berry. Em 1996, uma patente americana foi criada para um produto feito com o óleo essencial de aroeira brasileira, como um remédio tópico de ação bactericida utilizado contra Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus para seres humanos e animais (um preparado par nariz, ouvido e peito). A mesma companhia criou uma outra patente em 1997 para um preparado similar usado para limpeza de pele e de ação bactericida.

Aroeira-do-sertão

A Aroeira-do-sertão, Myracrodruon urundeuva, é uma árvore nativa do Brasil, especialmente encontrada na região do Sertão, que abrange partes do Nordeste e Centro-Oeste do país. Esta espécie é bastante valorizada tanto pela sua madeira quanto por suas propriedades ecológicas e medicinais.

Características 

  • Altura: Pode atingir entre 8 e 12 metros de altura, com um tronco que pode ter diâmetro de até 40 cm.
  • Folhas: Suas folhas são compostas, alternadas, e apresentam uma coloração verde-escura, contribuindo para a sombra e o abrigo de diversas espécies.
  • Flores: A floração ocorre geralmente entre outubro e dezembro, apresentando flores pequenas e brancas, que atraem polinizadores.
  • Frutos: Os frutos são pequenas drupas que contêm sementes, e sua maturação ocorre entre janeiro e março.

Propriedades e Usos

  • Madeira: A madeira da aroeira-do-sertão é altamente valorizada por sua durabilidade e resistência. É utilizada na construção civil, na fabricação de móveis e em artesanato. É especialmente preferida em áreas rurais devido à sua resistência às intempéries e pragas.
  • Uso Medicinal: As cascas e folhas secas da aroeira são utilizadas contra febres, problemas do trato urinário, contra cistites, uretrites, diarréias, blenorragia, tosse e bronquite, problemas menstruais com excesso de sangramento, gripes e inflamações em geral. Sua resina é indicada para o tratamento de reumatismo e ínguas, além de servir como purgativo e combater doenças respiratórias. Emprega-se também contra a blenorragia, bronquites, orquites crônicas e doenças das vias urinárias. Seu óleo é usado externamente como cicatrizante e para dor-de-dente. A resina amarelo-clara (a qual endurece ao ar tornando-se azulada e depois pardacenta), proveniente das lesões das cascas, é medicamento de larga aplicação entre os sertanejos, como tônico, nos casos em que usam cascas. Em outros tempos, a aroeira foi utilizada pelos jesuítas que, com sua resina, preparavam o ” Bálsamo das Missões “, famoso no Brasil e no exterior. Modo de uso: gargarejos, bochechos, compressas, tratamento tópico de ferimentos de pele ou mucosas, infectadas ou não, cervicite, hemorróidas inflamadas, gengivas inflamadas. Cozinhar em 1 litro de água, 100g da entrecasca limpa e seca da, quebrada em pedaços pequenos. Azia e gastrite. Utilizar os frutos cozidos de 2 vezes, cada vez com meio litro de água. Beber em doses de 30 ml duas vezes ao dia.
  • Ecológicas: A aroeira-do-sertão desempenha um papel importante na recuperação de áreas degradadas e na manutenção da biodiversidade. Suas raízes profundas ajudam a prevenir a erosão do solo e a conservar a umidade. Esta árvore desempenha um papel ecológico importante, especialmente no bioma da caatinga, onde contribui para a biodiversidade e serve de habitat para várias espécies nativas
  • Uso na Produção de Carvão: Devido à alta densidade da madeira, também é utilizada na produção de carvão de qualidade, muito procurado para churrascarias e indústrias que necessitam de calor intenso.
  • Outros usos: Devido ao alto teor de tanino, é empregada nos curtumes para curtir peles e couros. As folhas maduras passam por forrageiras. No Peru, a aroeira é utilizada após fermentação para se fazer vinagre e bebida alcoólica.

Importância Ecológica e Econômica

Estas espécies de aroeira desempenham um papel crucial na preservação do meio ambiente. Elas ajudam na recuperação de áreas degradadas, fornecem abrigo e alimento para a fauna local e são importantes para a manutenção da biodiversidade. Além disso, a exploração sustentável dessas plantas pode gerar renda para comunidades locais, especialmente em regiões onde a agricultura é uma fonte primária de sustento

Confusões e Cuidados

A principal confusão entre as espécies está relacionada ao nome popular “aroeira”. As três espécies de árvores possuem propriedades medicinais e são utilizadas na medicina popular, o que pode levar à troca de uma pela outra.

É fundamental consultar um profissional de saúde antes de utilizar qualquer produto à base de aroeira.

Considerações Finais

A aroeira é uma planta multifuncional que oferece benefícios ecológicos, medicinais e econômicos. A valorização e o uso sustentável dessas espécies são fundamentais para a conservação do meio ambiente e para o desenvolvimento das comunidades que dependem delas.

Fontes:

Aroeira-brava – Wikipédia, a enciclopédia livre

SciELO – Brasil – Essential oil of Lithraea molleoides (Vell.): chemical composition and antimicrobial activity Essential oil of Lithraea molleoides (Vell.): chemical composition and antimicrobial activity

Arvores medicinais

Aroeira-branca – Lithraea molleoides | WikiAves – A Enciclopédia das Aves do Brasil

Lithrea molleoides : Aroeira-Branca | SiBBr

Galeria

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