Classificação científica
Introdução
Denominam-se de angicos, várias espécies de leguminosas-mimosoídeas de folhas miúdas, frutos alongados do tipo vagem ou legume (não confundir com legumes da alimentação), com sementes redondas e achatadas.
Assim, temos o angico-rajado (Parapiptadenia rigida), o angico-branco (Anadenanthera colubrina), o angico-do-cerrado (Anadenanthera falcata), o angico-vermelho (Anadenanthera macrocarpa), entre outras espécies próximas. Normalmente são árvores de médio a grande porte, comuns em capoeiras ou na colonização de áreas abertas, no inverno perdendo totalmente as folhas.
A espécie mais comum em nossa região (Nordeste) é o angico-branco (Anadenanthera colubrina), encontrando-se boa parte das árvores em intensa florada entre novembro e janeiro. Suas flores diminutas são agrupadas em pequenos “pompons” brancos, por sua vez agrupados em cachos grandes, revestindo de branco as copas verdes.
Características
Tronco:
O Angico possui tronco acinzentado, tortuoso e alto, com copa ampla de folhagem rarefeita, no total chegando aos 20-25 metros.
Não é difícil localizá-lo nos capoeirões e matas da região, onde é também chamado de “angiqueiro”, nome normalmente associada ao angico-branco, não podendo ser confundido com o “manacá-da-serra” (Tibouchina pulchra), aqui chamado de “natalzeiro”, com suas flores brancas e roxas colorindo as capoeiras na época do Natal.
Também comum em nossa região (Nordeste) temos o angico-vermelho, que brota com as primeiras chuvas de setembro, sendo coberto em seguida por numerosas inflorescências cremes globosas, muito procuradas pelas abelhas, assim como o angico-branco.
Casca
Sua casca é rica em taninos sendo já amplamente utilizada em curtumes. Tem sabor amargo e pode ser antidisentérica e útil na cura de úlceras. É expectorante energético e com várias aplicações medicinais.
Resina
De sua casca sai uma resina composta por uma mistura de compostos orgânicos, incluindo óleos essenciais, ácidos e substâncias aromáticas. Isso lhe confere características únicas de odor e cor. Geralmente apresenta uma coloração âmbar ou marrom e pode ter uma consistência viscosa ou sólida, dependendo da forma como foi coletada e processada.
Folhas
O angico é uma árvore brasileira com diversas espécies, cada uma com suas particularidades. No entanto, de forma geral, as folhas do angico apresentam algumas características comuns que ajudam a identificá-la:
- Compostas: As folhas do angico são compostas, o que significa que são divididas em várias folhinhas menores, chamadas folíolos. Essa divisão aumenta a superfície de contato com a luz solar e facilita a troca gasosa.
- Bipinadas: A maioria das espécies de angico possui folhas bipinadas. Isso quer dizer que os folíolos estão dispostos em pares ao longo de um eixo central, e esses pares, por sua vez, estão dispostos em pares ao longo de um eixo principal.
- Numerosas: As folhas do angico costumam ter inúmeros folíolos, o que confere à árvore uma aparência frondosa e delicada.
- Tamanho variável: O tamanho das folhas e dos folíolos pode variar bastante entre as diferentes espécies de angico, dependendo do ambiente em que a árvore se desenvolve.
- Textura: A textura das folhas também pode variar, mas geralmente são lisas ou levemente ásperas.
Madeira
A madeira do angico é conhecida por sua densidade e durabilidade. Existem diferentes tipos de angico, como o angico-vermelho e o angico-branco, cada um com suas características específicas, que, no geral são as seguintes:
- Densidade: A madeira do angico é geralmente densa, com uma massa específica que pode variar de 0,68 g/cm³ a 1,10 g/cm³12.
- Cor: O cerne da madeira pode apresentar cores que vão do amarelo-dourado ao castanho, muitas vezes com veios ou manchas escuras12.
- Usos: É amplamente utilizada para estacas, mourões, lenha e carvão devido ao seu elevado poder calorífico. Além disso, é valorizada na construção civil e na fabricação de móveis
Semente:
As sementes de angico, provenientes de árvores como o angico-vermelho (Anadenanthera macrocarpa) e o angico-branco (Anadenanthera colubrina), apresentam as seguines características:
- Forma e Tamanho: As sementes são geralmente achatadas, lisas e medem cerca de 2 cm. Elas têm uma coloração castanho escuro e são bem lustrosas.
- Germinação: As sementes de angico germinam com facilidade, o que facilita o cultivo dessas árvores.
Produção de Mudas
A produção de mudas de angico é um processo relativamente simples, mas que requer alguns cuidados específicos para garantir o sucesso da germinação e o desenvolvimento saudável das plantas.
Passos Para a Produção de Mudas
- Coleta das Sementes: As sementes devem ser coletadas de árvores saudáveis e maduras. Elas são geralmente encontradas em vagens que se abrem naturalmente quando secas.
- Preparação das Sementes: Antes da semeadura, recomenda-se escarificar as sementes para facilitar a germinação. Isso pode ser feito lixando levemente a superfície da semente ou mergulhando-as em água quente por alguns minutos.
- Semeadura: As sementes devem ser plantadas em bandejas de isopor ou sacos plásticos com substrato adequado, como uma mistura de vermiculita, areia e húmus e em locais semi-sombreados, cobertas com leve camada de terra, irrigando-se de 1 a duas vezes ao dia. A profundidade de plantio deve ser de aproximadamente 1 a 2 cm.
- Condições de Germinação: As bandejas ou sacos devem ser mantidos em um ambiente com sombra parcial (50% de sombreamento) e irrigados regularmente para manter o substrato úmido, mas não encharcado.
- Crescimento das Mudas: A germinação ocorre geralmente entre 6 a 15 dias após a semeadura, com uma taxa de germinação variando de 40% a 80%. As mudas atingem cerca de 20 cm de altura em aproximadamente 9 meses.
- Transplante: Quando as mudas atingirem um tamanho adequado e apresentarem um sistema radicular bem desenvolvido, elas podem ser transplantadas para o campo. É importante escolher um local com solo bem drenado e condições adequadas de luz e umidade. Como crescem rápido, não devem demorar mais de um ano para irem a campo, onde atingem facilmente os 5-6m, em 2-3 anos. Sendo de porte médio a grande, devem ser plantadas em locais com bastante espaço e recuadas pelo menos 5-10m das construções.
Dicas Adicionais
- Adubação: A aplicação de macronutrientes, como fósforo (P) e nitrogênio (N), pode ajudar no crescimento das mudas. Recomenda-se doses de 150 a 250 mg/dm³ de P e 50 mg/dm³ de Nitrogênio.
- Associação Simbiótica: As raízes do angico podem formar associações simbióticas com bactérias do gênero Rhizobium, o que ajuda na fixação de nitrogênio e melhora o crescimento das plantas.
Uso e Aplicação
Madeira:
- Construção Civil: A madeira do angico é muito resistente e durável, sendo utilizada na construção de estruturas como vigas, postes e mourões.
- Móveis: Devido à sua beleza e resistência, a madeira do angico é valorizada na fabricação de móveis de alta qualidade.
- Carvão e Lenha: A madeira do angico é excelente para a produção de carvão vegetal e lenha, devido ao seu alto poder calorífico.
Resina
- Medicinal: A resina do angico é tradicionalmente utilizada na medicina popular para tratar diversas condições, como inflamações e problemas respiratórios. Possui propriedades antimicrobianas e anti-inflamatórias.
- Aromaterapia: Devido ao seu aroma característico, a resina é utilizada em práticas de aromaterapia e em incensos, promovendo relaxamento e bem-estar.
- Artesanato: A resina é utilizada em trabalhos artesanais e na fabricação de objetos decorativos, devido à sua durabilidade e aparência estética.
- Construção: Em algumas culturas, a resina é utilizada como um adesivo natural, especialmente em construções e reparos.
- Cosméticos: As propriedades antimicrobianas da resina podem torná-la útil em produtos cosméticos e de cuidados pessoais.
Medicinal:
- Casca e Sementes: A casca e as sementes do angico são usadas na medicina tradicional para tratar inflamações, problemas respiratórios e como adstringente.
- Chás e Extratos: Preparados a partir da casca são utilizados para aliviar sintomas de tosse, bronquite e outras condições respiratórias.
Ambiental:
- Reflorestamento: O angico é utilizado em projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas devido à sua capacidade de fixar nitrogênio no solo, melhorando a fertilidade.
- Sombra e Ornamental: É plantado em áreas urbanas e rurais para fornecer sombra e como árvore ornamental devido à sua beleza e resistência.
Outros Usos:
- Taninagem: A casca do angico é rica em taninos, utilizados na indústria de curtimento de couro.
- Melífera: As flores do angico são uma fonte importante de néctar para abelhas, contribuindo para a produção de mel.
Importância Ecológica
O angico desempenha um papel fundamental no ecossistema, contribuindo de várias maneiras para a saúde ambiental e a biodiversidade.
Fixação de Nitrogênio:
- Simbiose com Bactérias: As raízes do angico formam associações simbióticas com bactérias do gênero Rhizobium, que fixam nitrogênio atmosférico no solo. Isso melhora a fertilidade do solo, beneficiando outras plantas ao redor.
Recuperação de Áreas Degradadas:
- Reflorestamento: O angico é frequentemente utilizado em projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas. Sua capacidade de crescer em solos pobres e sua resistência a condições adversas ajudam a estabilizar o solo e prevenir a erosão.
Biodiversidade:
- Habitat para Fauna: As árvores de angico fornecem abrigo e alimento para diversas espécies de animais, incluindo aves, insetos e pequenos mamíferos. Suas flores são uma fonte importante de néctar para abelhas e outros polinizadores.
Ciclagem de Nutrientes:
- Folhas e Galhos: A queda de folhas e galhos do angico contribui para a ciclagem de nutrientes no solo, enriquecendo-o com matéria orgânica e promovendo um ambiente saudável para outras plantas.
Controle de Erosão:
- Raízes Profundas: As raízes profundas do angico ajudam a estabilizar o solo, reduzindo a erosão e melhorando a retenção de água. Isso é especialmente importante em áreas sujeitas a deslizamentos e erosão hídrica.
Importância Cultural:
- Uso Tradicional: Além de sua importância ecológica, o angico tem um valor cultural significativo em muitas comunidades, sendo utilizado em práticas medicinais tradicionais e em rituais culturais.
Curiosidade:
Pelo menos 14 tribos foram documentadas no uso do angico-branco, também chamada de cebil, para fins xamânicos e de cura. O seu nome foi dado a vários lugares e pessoas influentes no Peru e na Argentina. As sementes também são usadas como aditivo na “chicha”, uma bebida alucinogênia fermentada e parecida com a cerveja, usada para rituais e cerimônias.
São muito parecidas com as sementes da árvore de angico, a Anadenanthera peregrina, mas, têm um tipo de psicoatividade diferente. Além disso, cheiram-se e são ingeridas oralmente na “chicha”, enquanto o angico é principalmente cheirado.
Conclusão
A conservação do Angico é de extrema importância, especialmente devido à destruição de seus habitats naturais. Esforços de reflorestamento e manejo sustentável são essenciais para garantir a sobrevivência desta espécie. A conscientização sobre seu valor ecológico e medicinal pode ajudar a promover práticas de conservação mais eficazes.