Pequi – Caryocar brasiliense

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1. Introdução:

O pequi (Caryocar brasiliense), também conhecido como pequizeiro, piqui, piquiá, amêndoa-de-espinho e grão-de-cavalo, é uma árvore frutífera nativa do Cerrado brasileiro. Seus frutos são apreciados na culinária regional e possuem importância econômica, cultural e ecológica. Este artigo explora em detalhes as características e a relevância desta espécie.

2. Classificação Científica:

  • Reino: Plantae
  • Divisão: Magnoliophyta
  • Classe: Magnoliopsida
  • Ordem: Malpighiales
  • Família: Caryocaraceae
  • Gênero: Caryocar  
  • Espécie: Caryocar brasiliense Cambess.

3. Origem e Distribuição:

Regiões geográficas: O pequi é encontrado principalmente no bioma Cerrado, abrangendo os estados do Centro-Oeste, Sudeste (Minas Gerais e São Paulo), Nordeste (Bahia, Ceará, Maranhão, Piauí) e Norte (Pará e Tocantins). Ocorre também em áreas de transição para a Amazônia.

Tipos de habitat: O pequi é característico do Cerrado, adaptando-se a diferentes fitofisionomias, como cerradão, campo cerrado e cerrado stricto sensu. Prefere solos ácidos, pobres em nutrientes e bem drenados.

4. Características Botânicas:

O pequi ou pequizeiro tem seus ramos tortuosos, além de ser heliófita, xerófita e semidecídua. Seu tronco apresenta casca cinzenta, da qual se extrai corantes amarelos, utilizados pelos artesãos locais. 

Hábito de Crescimento: 

O pequi é uma árvore de porte médio, característica do bioma Cerrado. Sua altura varia entre 6 e 12 metros, mas pode atingir até 15 metros em condições favoráveis. Possui tronco tortuoso, com casca rugosa e espessa, que ajuda a proteger a planta contra queimadas frequentes no Cerrado.

Folhas: 

As folhas são compostas trifoliadas, ou seja, divididas em três folíolos. Os folíolos são coriáceos (com textura semelhante ao couro), com margens onduladas e serrilhadas. Apresentam coloração verde-escura na face superior e verde-clara na face inferior, com nervuras bem evidentes. São providas de pequenos tricomas (pelos) que conferem uma textura levemente áspera.

Flores: 

As flores do pequi são hermafroditas, vistosas e perfumadas. Apresentam pétalas brancas ou esbranquiçadas, com longos estames amarelos que formam um aspecto plumoso e chamativo. A floração ocorre geralmente na estação seca (entre julho e setembro), atraindo insetos polinizadores como abelhas, além de pássaros e morcegos.

Frutos: 

O fruto é uma drupa globosa, com casca verde ou amarelada e espessa, recoberta por pequenas lenticelas (pontos ou marcas). Contém uma polpa amarela, espessa e aromática, que é rica em óleo e amplamente utilizada na culinária regional. Abaixo da polpa, encontra-se um caroço duro com espinhos internos, que envolvem as sementes.

Sementes: 

As sementes estão dentro do caroço espinhoso. Cada fruto geralmente contém uma ou duas sementes. São ricas em óleos essenciais e têm alto valor nutricional. O caroço é protegido por espinhos rígidos e afiados, que tornam o manuseio e a extração das sementes um processo cuidadoso.

Raízes: 

O sistema radicular do pequi é profundo e bem desenvolvido, adaptado para buscar água em camadas mais profundas do solo. Essa característica é essencial para sua sobrevivência no Cerrado, onde as estações secas são intensas e prolongadas. 

Além disso, as raízes desempenham um papel importante na fixação do solo, contribuindo para a conservação ambiental.

5. Composição Química:

Principais compostos químicos: O pequi é rico em óleos graxos (principalmente ácido oleico e palmítico), carotenoides (como o betacaroteno, precursor da vitamina A), vitaminas (C e E), fibras e minerais.

Propriedades medicinais ou tóxicas: O óleo de pequi possui propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. No entanto, o consumo da polpa crua próxima ao caroço com espinhos pode causar irritação na boca e garganta. O consumo excessivo pode causar problemas digestivos.

6. Variedades:

Não há variedades ou subespécies formalmente reconhecidas de Caryocar brasiliense. No entanto, observa-se variação na forma, tamanho e sabor dos frutos, possivelmente devido a fatores genéticos e ambientais.

7. Importância Ambiental:

Papel no ecossistema: O pequi desempenha um papel importante na conservação do Cerrado, oferecendo abrigo e alimento para diversas espécies da fauna.

Interações com outras espécies: As flores são polinizadas por insetos, como abelhas e besouros. Os frutos são consumidos por diversos animais, como mamíferos (cutias, macacos), aves e morcegos, que atuam como dispersores de sementes.

8. Importância Econômica:

Usos comerciais: Os frutos são comercializados in natura e utilizados na produção de óleo, licores, doces, sorvetes e outros produtos alimentícios. A madeira é utilizada na construção civil e para lenha.

Valor econômico: O extrativismo e a comercialização do pequi geram renda para comunidades locais e contribuem para a economia regional.

9. Importância Cultural:

Uso em tradições e práticas culturais: O pequi possui forte valor cultural para as comunidades tradicionais do Cerrado, estando presente em festas, rituais e na culinária típica.

Significado simbólico ou religioso: O pequi é frequentemente associado à fartura, à identidade cultural e à resistência do povo do Cerrado.

10. Uso Culinário:

Partes da planta utilizadas na culinária: A polpa do fruto é a parte mais utilizada. O óleo extraído da polpa também é consumido.

Receitas tradicionais: Arroz com pequi, frango com pequi, licor de pequi, doce de pequi, óleo de pequi utilizado em diversas preparações.

Segundo a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, 100g da polpa de pequi tem, em média, 200kcal, com 13g de carboidratos, 2,3g de proteínas e, 18g de lipídeos. Possui, também, importante quantidade de fibras (19g/100g), incluindo a pectina. Tanto a polpa quanto a amêndoa são boas fontes de ácidos graxos insaturados.

Receita – Arroz com Pequi:

Ingredientes:

  • 1/4 de xícara de chá de óleo ou banha de porco 
  • 1/2 litro de pequi lavado 
  • 2 dentes de alho espremidos 
  • 1 cebola grande picada 
  • 2 xícaras de chá de arroz 
  • 4 xícaras de chá de água quente 
  • Sal a gosto 
  • Pimenta-de-cheiro ou Malagueta a gosto 
  • Salsinha e cebolinha picada a gosto

Modo de Preparo

  • Em óleo frio ou gordura coloque o pequi (se usar o fruto inteiro, não é preciso cortar, mas cuidado com o caroço). 
  • Acrescente o alho e a cebola e deixe refogar em fogo baixo, mexendo sempre com uma colher de pau para não grudar na panela, respingue água quando for necessário. 
  • Quando o pequi já estiver macio e a água secado, acrescente o arroz e deixe fritar um pouco.
  • Junte a água e o sal. 
  • Quando o arroz estiver quase pronto, coloque a pimenta-de-cheiro ou malagueta a gosto. 
  • Polvilhe o arroz com salsa e cebolinha e um pouco de pimenta. 

Nota: Não utilize panela de ferro, pois a fruta fica preta. 

11. Uso Medicinal:

Propriedades terapêuticas: Rico em vitaminas A, C e E e betacarotenóides (componentes com propriedades antioxidantes, que têm a capacidade de proteger o organismo da ação danosa dos radicais livres), o extrato de polpa de pequi foi aplicado em células de ovário de hamster chinês que estavam submetidas também a uma combinação de substâncias como ciclofosfamida e bleomicina (drogas usadas no tratamento de pacientes com câncer).

Aplicações na medicina tradicional e moderna: Na medicina tradicional, o óleo é utilizado para tratar problemas respiratórios, inflamações e como cicatrizante. Estudos científicos investigam o potencial do pequi em diversas áreas da saúde. Pesquisa realizada pelo Laboratório de Genética do Instituto de Ciências Biológicas (IB) da Universidade de Brasília (UnB) concluiu que esse fruto típico do Cerrado pode ser indicado como eficiente redutor da ação dos chamados radicais livres (moléculas que se formam no organismo humano e reagem de forma danosa às células sadia) e está qualificado como coadjuvante no tratamento do câncer. 

Os testes estatísticos revelaram que o pequi exerceu efeito protetor contra os danos causados às células por essa combinação. E que, além de amenizar a ação degenerativa das drogas, o extrato da fruta não afeta o índice proliferativo das células sadias. A pesquisa do professor César Grisólia não chega a mensurar essa ação protetora. “Mas já é considerável comprovarmos que o pequi tem essa propriedade. Medir o quanto ele protege as células, aí já é outra pesquisa”, esclarece.

Efeitos colaterais e precauções: O consumo da polpa próxima ao caroço com espinhos pode causar irritação. O consumo excessivo pode causar problemas digestivos.

12. Produtos à Base de Pequi:

Produtos comerciais derivados da planta: Óleo de pequi (cápsulas, cosméticos, óleos corporais), polpa congelada, doces, licores, sorvetes.

Processos de fabricação: O óleo é extraído da polpa por prensagem ou extração com solventes.

13. Cultivo:

Clima e Temperatura: 

O pequi é uma espécie nativa do bioma Cerrado, adaptada a regiões com clima tropical sazonal. Temperatura ideal: Entre 20°C e 28°C, tolerando temperaturas mais altas durante a estação seca. Resiste bem à estiagem, mas não tolera geadas intensas. A planta se desenvolve em áreas com precipitação anual entre 800 e 1.800 mm, preferencialmente com uma estação seca bem definida.

Solo: 

O pequi cresce em solos arenosos, ácidos e pobres em nutrientes, comuns no Cerrado. Prefere solos bem drenados para evitar o encharcamento, mas pode tolerar condições mais áridas devido às suas raízes profundas. pH ideal: Entre 4,5 e 6,5. Em solos muito ácidos, recomenda-se a aplicação de calcário para correção.

Irrigação: 

Durante a fase inicial de desenvolvimento (nos primeiros 2 a 3 anos), a irrigação regular é essencial, especialmente na estação seca. Após o estabelecimento, o pequi é resiliente à seca e, geralmente, não requer irrigação suplementar. Evite encharcamento, pois as raízes são sensíveis a excesso de água.

Adução: 

O pequi exige adubações moderadas, pois é adaptado a solos de baixa fertilidade. Na fase inicial, recomenda-se aplicar adubos orgânicos, como esterco curtido ou compostos. Fertilizantes químicos podem ser usados com base em análises de solo, priorizando fontes de fósforo e potássio para estimular o desenvolvimento radicular e a produção de frutos. 

Espaçamento: 

O espaçamento ideal depende do sistema de cultivo:

  • Cultivo exclusivo: Espaçamento de 8 x 8 m ou 10 x 10 m.
  • Sistema agroflorestal: Pode ser ajustado de acordo com as espécies consorciadas, geralmente com 10 x 12 m.

Espaçamentos adequados evitam competição por luz, água e nutrientes, e facilitam o manejo.

Controle de Pragas: 

As principais pragas incluem:

  • Broca-do-fruto (Carmenta sp.): Danifica os frutos, reduzindo a produtividade.
  • Formigas cortadeiras: Podem atacar as folhas, especialmente em mudas jovens.
  • Coleobrocas: Afetam o tronco e galhos.

Controle:

  • Uso de isca formicida para formigas.
  • Inspeção regular e remoção de frutos infestados.
  • O manejo integrado de pragas, com controle biológico e práticas culturais, é altamente recomendado.

Poda: 

Realizar podas de formação nos primeiros anos, eliminando galhos cruzados, doentes ou muito baixos. Após o estabelecimento, as podas devem ser leves, apenas para remover ramos mortos ou promover arejamento da copa.

Colheita: 

A colheita ocorre geralmente na estação chuvosa, entre novembro e março, dependendo da região. Os frutos maduros caem naturalmente no solo, facilitando a coleta. Recomenda-se recolher os frutos logo após a queda para evitar perdas por apodrecimento ou ataque de pragas. 

Rotação de Culturas: 

O pequi é geralmente cultivado em sistemas agroflorestais ou consorciado com espécies perenes, como milho ou feijão, nas fases iniciais. A rotação com outras culturas pode ajudar na recuperação do solo e no controle de pragas e doenças. Espécies leguminosas são ideais para consórcio, pois melhoram a fertilidade do solo por fixação de nitrogênio.

Condições Locais: 

O cultivo do pequi se adapta bem a áreas de Cerrado, mas também pode ser introduzido em regiões de clima similar com solos arenosos e bem drenados. Evitar locais com alagamento frequente ou solos muito compactados. O uso de práticas sustentáveis, como preservação de vegetação nativa ao redor, ajuda a manter o equilíbrio ecológico e os polinizadores.

14. Considerações Finais:

O pequi é uma espécie de grande importância para o Cerrado, com múltiplos usos e significados. Sua conservação e o manejo sustentável são essenciais para garantir a preservação deste patrimônio natural e cultural.

Fontes:

Mixologynews: Pequi, ouro do cerrado

Embrapa: Pequizeiro – Caryocar brasiliense

Univag: Piquezeiro, uma espécie promissora

Procisur: Caryocar brasiliense Cambess.

Galeria:

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