Melancia: Do Deserto Africano à Mesa Global

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1. Introdução

A melancia, cientificamente denominada Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai, é uma planta herbácea rasteira pertencente à família Cucurbitaceae, a mesma do melão, pepino e abóbora. Apresenta hábitos rasteiros, com ramificações que podem alcançar de 3 a 5 metros de comprimento. Esta fruta conquistou o mundo, tornando-se uma fruta popular e refrescante, especialmente durante os meses mais quentes.

Sua polpa suculenta e doce, geralmente de cor vermelha ou rosa, e suas sementes escuras a tornam facilmente reconhecível. Além de seu valor nutricional e sabor agradável, a melancia possui uma longa história de cultivo e diversos usos culinários e medicinais.

Este artigo explora em detalhes a taxonomia, origem, características botânicas, composição química, variedades, importância ambiental, econômica e cultural da melancia, bem como seus usos e aspectos relacionados ao seu cultivo.

2. Nomenclatura da Melancia

A correta identificação e compreensão da nomenclatura botânica são fundamentais para o estudo da melancia.

2.1. Classificação Científica

A melancia está classificada da seguinte forma no sistema taxonômico:

  • Reino: Plantae (Vegetal)
  • Divisão: Magnoliophyta (Plantas com flor)
  • Classe: Magnoliopsida (Dicotiledôneas)
  • Ordem: Cucurbitales
  • Família: Cucurbitaceae
  • Gênero: Citrullus
  • Espécie: Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai

A designação “(Thunb.) Matsum. & Nakai” indica que Carl Peter Thunberg descreveu originalmente a espécie como Momordica lanata, e posteriormente, os botânicos Jinzō Matsumura e Takenoshin Nakai realizaram a combinação taxonômica para o gênero Citrullus. O gênero Citrullus inclui outras espécies, como o melão-do-deserto (Citrullus colocynthis), que possui propriedades medicinais.

2.2. Nomes Populares da Melancia

A melancia é conhecida por diversos nomes populares em diferentes regiões do mundo:

  • Brasil: Melancia
  • Portugal: Melancia
  • Inglês: Watermelon
  • Espanhol: Sandía
  • Francês: Pastèque
  • Italiano: Anguria
  • Alemão: Wassermelone

A relativa uniformidade do nome em português reflete a ampla disseminação da fruta no país.

3. Origem e Distribuição da Melancia

Embora, na Índia, seja encontrada uma grande diversidade dessa espécie, o que acabou gerando uma controvérsia sobre sua real origem, a melancia é nativa das regiões áridas e semiáridas da África.

Devido ser extremamente adaptável e resistente, dispersou-se sem problemas por quase todo o mundo e é, hoje, a segunda fruta mais produzida no planeta, depois da banana.

3.1. Regiões Geográficas Onde é Encontrada

A melancia cultivada (C. lanatus var. lanatus), essa delícia doce que comemos, deriva, provavelmente, da variedade selvagem C. lanatus var. citroides (a melancia branca, forrageira) que cobriam zonas inteiras da África Central, onde ocorreu a domesticação e onde a melancia é cultivada há mais de 5000 anos.

Há registros de seu cultivo no Egito antigo e no Oriente Médio há mais de 4.000 anos. Acredita-se que o centro de diversidade primário da melancia seja o sul da África, tendo como centro de diversificação secundário o Sul da Ásia.

A cultura foi introduzida na China no século X. Também, por volta do século X, o seu cultivo era documentado na Córdoba árabe e, no século XIII, já era cultivada em diversas regiões da Europa. Na América, foi introduzida no século XVI.

Ao longo dos séculos, a melancia se espalhou por todo o mundo, sendo atualmente cultivada em regiões temperadas e tropicais de todos os continentes. Os principais países produtores incluem China, Turquia, Irã, Brasil e Estados Unidos.

3.2. Tipos de Habitat

Em seu estado selvagem, a melancia é encontrada em áreas de savana e desertos arenosos da África, onde suas raízes profundas permitem acessar a água subterrânea. As variedades cultivadas são adaptadas a uma ampla gama de condições climáticas e tipos de solo, sendo cultivadas em campos agrícolas e hortas ao redor do mundo. Embora não seja uma planta típica de florestas ou áreas costeiras, seu cultivo pode ocorrer em regiões próximas a esses biomas, desde que as condições de solo e clima sejam adequadas.

4. Características Botânicas da Melancia

A melancia apresenta características botânicas típicas de plantas da família Cucurbitaceae.

4.1. Hábito de Crescimento

A melancia é uma planta herbácea anual, com um hábito de crescimento rasteiro. Seus caules são longos, ramificados e cobertos por pelos ásperos. Possuem gavinhas espiraladas que auxiliam na fixação e sustentação, embora a planta geralmente se espalhe pelo solo.

4.2. Caule

Por ser uma planta herbácea, a melancia não desenvolve um tronco lenhoso. Seus caules são rasteiros, longos, verdes, flexíveis, suculentos, ramificados, cilíndricos, cobertos por pelos e apresenta uma estrutura fina, longa e espiralada de fixação denominada gavinha.

4.3. Folhas

As folhas da melancia são grandes, pecioladas e lobadas, com 3 a 5 lóbulos profundos e margens dentadas ou onduladas. Apresentam uma coloração verde-escura e são cobertas por pelos ásperos em ambas as faces. A disposição das folhas ao longo do caule é alterna.

4.4. Flores

As flores da melancia são unissexuais (monóicas), ou seja, existem flores masculinas e flores femininas na mesma planta. São relativamente grandes, solitárias e axilares, com um cálice verde e uma corola amarela de cinco pétalas fundidas na base. As flores femininas são fáceis de serem identificadas, porque têm um ovário, com formato de frutinho, logo abaixo da flor.

A polinização, já que o pólen constitui uma massa pegajosa, que não pode ser transportado pelo vento, sendo feita pelas abelhas que transportam os grãos de pólen da flor masculina para as femininas, sem a qual não há frutificação. Alguns produtores disseminam colmeias de abelhas ao redor de seus campos de melancias para garantir uma melhor polinização.

4.5. Frutos

O fruto da melancia é um pepo, um tipo especial de baga característico das Cucurbitaceae. É geralmente grande e globoso a oval, com casca (exocarpo) lisa e dura, geralmente de cor verde com listras ou manchas mais claras, embora existam variedades com casca amarela ou preta.

O mesocarpo e espesso (1 a 4 cm). Geralmente apresenta uma coloração branca ou esverdeada, contrastando com o verde da casca externa e a cor vibrante da polpa interna.  É composto principalmente por água e fibras, além de conter alguns nutrientes em menor quantidade em comparação com a polpa.

 A polpa (endocarpo) é carnosa, suculenta e doce, com coloração que varia do vermelho e rosa ao amarelo e branco, podendo ter ou não sementes, dependendo da variedade. Em geral, quanto mais madura a fruta, mais doce seu sabor. Porém, algumas vezes, este é insípido e sem graça e, então, só serve para alimentar os animais que nunca se fartam de comê-la.

4.6. Sementes

As sementes da melancia são numerosas, ovais e achatadas, geralmente de cor preta ou marrom-escura, embora existam variedades com sementes brancas ou ausentes (melancias sem sementes). As sementes estão dispersas na polpa do fruto.

4.7. Raízes

O sistema radicular da melancia é pivotante e extenso, com uma raiz principal profunda que pode atingir até 1,5 metros de profundidade, e raízes laterais ramificadas que se espalham horizontalmente, permitindo a absorção de água e nutrientes em uma grande área. Concentram-se nos 25/30 cm superficiais do solo, embora algumas raízes alcancem maiores profundidades.

5. Composição Química da Melancia

Além do alto teor de água, a melancia é uma das frutas mais ricas em vitaminas, vendida no Brasil: vitaminas A, C, B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B6, B12, niacina, ácido fólico e biotina. O valor nutritivo do fruto é reduzido, A pigmentação vermelha da polpa da melancia é conferida pelo licopeno, um caroteno com elevada atividade anti-oxidante. Nas cultivares de polpa amarela a cor é conferida por beta-caroteno (pró-vitamina A) e por xantofilas.

5.1. Principais Compostos Químicos

A composição química da melancia inclui:

  • Água: Constitui cerca de 90-95% do peso do fruto, sendo responsável por sua propriedade refrescante.
  • Açúcares: Principalmente frutose, glicose e sacarose, que conferem o sabor doce.
  • Licopeno: Um carotenoide responsável pela coloração vermelha da polpa e com potente ação antioxidante.
  • Citrulina: Um aminoácido não essencial que pode ser convertido em arginina no organismo, com potenciais benefícios para a saúde cardiovascular.
  • Vitaminas: Contém vitaminas A, C e algumas do complexo B.
  • Minerais: Presente em pequenas quantidades, incluindo potássio e magnésio.
  • Compostos Fenólicos: Incluindo flavonoides e ácidos fenólicos, com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.
  • Fibras: Presentes em pequena quantidade na polpa.
  • Cucurbitacinas: Compostos triterpenoides encontrados em baixas concentrações na polpa e em maior concentração nas folhas e casca, alguns com potencial medicinal, mas outros podem ser tóxicos em altas doses.

A composição exata pode variar dependendo da variedade, do grau de maturação e das condições de cultivo.

5.2. Propriedades Medicinais ou Tóxicas

A melancia possui alguns usos tradicionais e potenciais propriedades medicinais, além de precauções a serem consideradas.

Propriedades Medicinais (em estudo):

  • Antioxidante: O licopeno e outros compostos fenólicos protegem contra o dano oxidativo.
  • Hidratante e diurética: Devido ao alto teor de água e potássio.
  • Cardioprotetora: A citrulina pode melhorar o fluxo sanguíneo e a pressão arterial.
  • Anti-inflamatória: Alguns compostos podem apresentar atividade anti-inflamatória.

Propriedades Tóxicas:

Em geral, a polpa da melancia é considerada segura para consumo.

As sementes também são comestíveis e nutritivas.

As folhas, caules e casca contêm cucurbitacinas, que em altas concentrações podem ser tóxicas, causando problemas gastrointestinais. Variedades cultivadas geralmente possuem baixos níveis desses compostos na polpa, mas plantas selvagens ou mutações podem ter níveis elevados.

O consumo moderado de melancia é considerado benéfico para a saúde devido à sua composição.

6. Varidades de Melancia

Embora Citrullus lanatus seja a principal espécie cultivada, existem diversas variedades e cultivares que diferem em tamanho, forma, cor da casca e da polpa, presença ou ausência de sementes, e resistência a doenças. Algumas classificações podem distinguir subespécies com base em características genéticas e geográficas, mas a maioria das melancias comerciais pertence à mesma espécie.

Exemplos de variedades populares incluem Crimson Sweet, Jubilee, Sugar Baby (com sementes), e diversas variedades sem sementes como a Mini Amarela e a Melancia Híbrida sem Semente.

As melancias mais cultivadas no Brasil enquadram-se nas variedades japonesas e americanas, (como Crimson Sweet, Madera, Congo, Charleston Gray e Rubi AG-08, além de uma pequena escala de melancia sem semente) que são mais precoces e resistentes aos longos transportes após a colheita.

6.1. Diferentes Variedades ou Subespécies

Existem três grandes tipos de melancias:

As melancias de polpa amarga (Citrullus colocynthis), cultivadas na África por suas sementes que são fritas antes de serem consumidas. Ela é uma trepadeira rastejante, muito adaptada a ambientes áridos e semiáridos. Seus frutos são globosos, do tamanho de uma laranja ou maçã média (4–10 cm de diâmetro), com casca clara e nervuras mais claras. A polpa interna é amarela ou laranja pálida e extremamente amarga, sendo imprópria para consumo in natura.

As melancias forrageiras (Citrullus lanatus var. citroides), também conhecidas como melancia-de-cavalo, melancia do mato ou, melancia-de-porco. A sua polpa é branca, consistente (com um teor elevado de matéria seca), e não açucarada (baixo teor de sacarose), daí não ter boa aceitação para o consumo humano. É utilizada na alimentação animal. Provavelmente se originou da Citrullus colocynthis.

As melancias de polpa açucarada (Citrullus lanatus var. lanatus), é a variedade  maiscultivada de melancia, aquela que conhecemos e consumimos amplamente. Sua polpa pode te cor vermelha, laranja ou amarela, muito ricas em água – consumidas como alimento humano no mundo todo. Provavelmente se originou da Citrullus lanatus var. citroides

6.2. Características Específicas de Cada Variedade

As variedades de melancia podem ser classificadas de diversas formas, incluindo:

  • Tamanho: Variedades pequenas (“baby”), médias e grandes.
  • Forma: Redondas, ovais, alongadas.
  • Cor da casca: Verde com listras claras ou escuras, verde sólida, amarela, preta.
  • Cor da polpa: Vermelha (a mais comum, devido ao licopeno), rosa, amarela, laranja, branca.
  • Presença de sementes: Com sementes (pretas, marrons ou brancas) ou sem sementes (triploides).
  • Textura da polpa: Crocante, arenosa, fibrosa.
  • Sabor: Variações na doçura e no aroma.
  • Época de maturação: Precoces, médias ou tardias.
  • Resistência a doenças e pragas: Variedades selecionadas para maior resistência.

6.3. Melancia sem Sementes:

Na verdade, as sementes existem, mas são pouco desenvolvidas e totalmente comestíveis.

Tanto a melancia com polpa vermelha como a amarela já são encontradas sem sementes por aqui e não deixam a desejar em relação ao sabor ou nutrição da melancia com semente, sendo de mais fácil digestão, mais prática para o consumo e menos calórica (22 kal/100g). Entretanto, custam cerca de 3 vezes mais que as tradicionais.

A produção de melancia sem sementes no Brasil ainda é pequena. A tecnologia foi desenvolvida no Japão ainda na década de 40 (1947 foi apresentada o primeiro exemplar da nova espécie) e vem sendo adaptada pela Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. “Há pouca disponibilidade de híbridos no mercado e suas sementes são muito caras em relação às variedades tradicionais”, segundo os técnicos da Embrapa. A espécie sem sementes possibilita maiores colheitas devido ao vigor híbrido; mais toneladas produzidas por hectare.

A ausência de sementes na melancia ocorre como resultado de um cruzamento, entre plantas de diferentes constituições genéticas, levando a uma semente especial que proporciona a fruta sem sementes. Os pesquisadores alertam que, em alguns casos, pouquíssimas sementes são originadas, mas isso não é comum. No entanto, é normal a presença de rudimentos brancos de sementes, que podem ser ingeridas com a polpa, sem problemas.

6.4. Melancia de Polpa Amarela:

A variedade de polpa amarela (melancia japonesa ou kodama) também vem sendo objeto de estudos da Embrapa há alguns anos, comandado pelo pesquisador Flávio de França Souza, e o resultado vai ser lançado no mercado ainda em 2007: duas variedades de melancia de polpa tenra: a BRS Soleil e a BRS Kuarah, levemente crocantes, com alto teor de açúcares e coloração amarelo canário.

Para o consumidor, as futuras variedades serão mais práticas, pois, além de apresentarem excelente sabor, os frutos são pequenos variando em média de dois a quatro quilos, o que representa menor preço por unidade, maior facilidade de transporte e rapidez no consumo, mesmo em famílias pequenas, evitando a armazenagem no refrigerador.

6.5. Um Pouco Mais Sobre a Melancia de Polpa Branca:

Introduzida no Brasil no período colonial, a melancia forrageira “naturalizou-se” e se disseminou por meio de cruzamentos com outras espécies de melancia. Atualmente, encontra-se na natureza uma grande quantidade de tipos. Naturalmente, depois de maduro, o seu fruto se conserva por mais de um ano sem perder suas qualidades nutricionais. O mais impressionante é que a conservação pode ser obtida com a manutenção do fruto amadurecido no próprio campo onde foi cultivado e sob o sol escaldante das áreas secas do Nordeste, por exemplo, sem qualquer necessidade de práticas sofisticadas de armazenamento.

Este tipo de melancia é um recurso alimentar essencial à criação pecuária da região, já que outra característica interessante dessa planta para os criadores, é a grande quantidade de água dos frutos, cerca de 90%. Em proporções adequadas pode, inclusive, chegar a suprir quase que integralmente a necessidade de água diária dos animais. E isto não é pouca coisa numa região como o semi-árido nordestino.

Os percentuais de proteína bruta e fibra bruta, bem como a digestibilidade /in vitro/ da matéria seca dos frutos e das sementes da melancia forrageira se assemelham aos níveis mínimos, constituintes da matéria seca das plantas forrageiras, exigidos pelos animais. Alguns elementos, como potássio e cobre, são encontrados em proporções muito superiores. Portanto, é uma alternativa promissora para complementar a alimentação dos rebanhos no semi-árido nordestino.

Diferente das melancias tradicionais comercializadas em supermercados e feiras livres, que possuem casca verde, polpa vermelha e são doces, a espécie forrageira tem casca dura bastante resistente aos impactos e à deterioração, a polpa é branca e geralmente consistente, e apresenta baixo teor de sacarose o que a torna sem sabor.

6.6. Melancia Quadrada:

Na verdade, não é bem uma variedade diferente. Agricultores da localidade japonesa de Zentsuji encontraram uma maneira de cultivar melancias quadradas. E dizem que não é um capricho, pois a técnica tem suas aplicações práticas.

A razão pela qual inventam esse tipo de alternativa no Japão é a falta de espaço. Uma melancia grande e redonda pode ocupar muito espaço em um refrigerador e nem sempre fica parada nas prateleiras.

Por isso, os agricultores japoneses resolveram o problema forçando as melancias a crescer quadradas. Quando as frutas estão em fase de crescimento, ainda plantadas, os agricultores as colocam em formas quadradas de vidro.

Essas formas têm as dimensões exatas dos refrigeradores japoneses e se encaixam perfeitamente entre as prateleiras, impedindo que as melancias saiam “dançando”.

Mas, a fruta cúbica tem seus inconvenientes: cada melancia quadrada custa cerca de 10.000 ienes, o equivalente a 82 dólares.

7. Importância Ambiental da Melancia

O cultivo da melancia pode ter impactos ambientais, mas a planta em si também desempenha um papel em ecossistemas naturais.

7.1. Papel no Ecossistema

Em seu habitat nativo, a melancia selvagem pode servir como fonte de alimento e água para alguns animais. Suas flores atraem polinizadores. No entanto, a melancia cultivada é principalmente um produto agrícola e seu papel direto em ecossistemas naturais é limitado, exceto quando cultivada em sistemas agroecológicos que visam a integração com a natureza.

7.2. Interações com Outras Espécies

  • Polinizadores (abelhas, outros insetos): Essenciais para a produção de frutos. A dependência da polinização por insetos destaca a importância da conservação de polinizadores em áreas de cultivo.
  • Dispersores de sementes (animais): Em variedades selvagens, animais podem consumir os frutos e dispersar as sementes. Em variedades cultivadas, a dispersão é feita principalmente por humanos.
  • Pragas e doenças: A melancia cultivada é suscetível a diversas pragas (como pulgões, ácaros e moscas-das-frutas) e doenças fúngicas e virais, que podem afetar a produção.

O manejo sustentável do cultivo da melancia busca minimizar os impactos negativos no meio ambiente, como o uso excessivo de água e pesticidas.

8. Importância Econômica da Melancia

A melancia possui grande importância econômica em nível global. No Brasil, a melancia chegou com os escravos e é cultivada, com sucesso, em climas e solos dos mais diversos, da Amazônia ao Rio Grande do Sul. No volume e no valor econômico, a melancia está entre os dez primeiros lugares na lista das hortaliças comercializadas no mercado nacional, posto de relevada importância.

Nas cidades brasileiras, é comum encontrar ambulantes vendendo pedaços já partidos de melancia e de outras frutas refrescantes, tais como o abacaxi para atenuar o calor dos passantes. Desde 2006, o dia 26 de novembro é o Dia da Melancia no Brasil.

Os principais pólos produtores de melancia no país estão no Sul, sendo que os Estados do Rio Grande do Sul e de São Paulo abarcam quase a metade de toda a produção nacional e, no Nordeste, mais precisamente na Bahia e em Pernambuco, onde as áreas irrigadas do Vale do Rio São Francisco são responsáveis por cerca de um quarto do total produzido.

Parte dessa produção destina-se à exportação, especialmente para alguns países da própria América do Sul O maior produtor nacional é o Rio Grande do Sul. seguido por São Paulo, Bahia, Rio Grande do Norte e Tocantins (Ibraf 2004). A principal região produtora de melancia do Estado de São Paulo é Marília.

8.1. Usos Comerciais

  • Alimento fresco: Principal forma de comercialização e consumo.
  • Suco: A polpa é utilizada para a produção de suco, tanto industrial quanto artesanal.
  • Saladas de frutas e outros preparos: Utilizada em diversas receitas culinárias.
  • Sementes torradas: Em algumas culturas, as sementes são consumidas torradas como um petisco nutritivo.
  • Óleo de semente: As sementes podem ser prensadas para a obtenção de óleo.
  • Cosméticos: Extratos e óleos de melancia podem ser utilizados em produtos cosméticos por suas propriedades hidratantes e antioxidantes.

8.2. Valor Econômico

A produção global de melancia é significativa, gerando bilhões de dólares em comércio. É uma importante fonte de renda para agricultores em muitas regiões do mundo. O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de melancia da América do Sul. A demanda por melancia fresca e seus derivados continua a crescer, impulsionada por seus benefícios para a saúde e seu sabor refrescante.

9. Importância Cultural da Melancia

A melancia possui um significado cultural em diversas sociedades.

9.1. Uso em Tradições e Práticas Culturais

  • Festivais e celebrações: Em algumas regiões, a colheita da melancia é celebrada com festivais.
  • Simbolismo de verão e frescor: A melancia é frequentemente associada aos meses quentes e à sensação de frescor e hidratação.
  • Competições: Competições de comer melancia são populares em alguns países.

9.2. Significado Simbólico ou Religioso

Em algumas culturas, a melancia pode ter significados simbólicos relacionados à abundância, fertilidade ou prosperidade, devido ao seu tamanho grande e grande número de sementes. No entanto, não há um significado religioso amplamente difundido associado à melancia.

10. Uso Culinário da Melancia

A melancia é extremamente versátil na culinária, sendo utilizada de diversas formas. Os frutos são normalmente consumidos crus, como sobremesa refrescante. Nas regiões áridas de África são utilizados como fonte de água desde tempos imemoriais.

As sementes são muito consumidas em diversas regiões da Ásia. Na Índia faz-se pão de farinha de semente de melancia; no Médio Oriente comem-se as sementes assadas. A parte branca da casca (mesocarpo) pode ser em conserva, cozida ou utilizada para fazer doces.

Além da fruta ao natural, a melancia também é consumida como suco, drinks, geléias, doces, molhos e saladas.

Na Rússia meridional, uma cerveja tem suco de melancia como ingrediente.

Nos Estados Unidos costuma-se fazer picles com a casca da melancia.

Outra variação é fazer doce com a parte branca, que se prepara da mesma forma que o doce de mamão verde.

10.1. Dicas para se Comprar uma Boa Melancia

Uma melancia de boa qualidade tem casca firme, lustrosa e sem manchas escuras. As manchas claras não são sinais de um produto de má qualidade.

Determinar se uma melancia está ou não está madura não é tarefa fácil. Sua casca, dura e espessa, não deixa transparecer o que há lá dentro. Um bom método é dar uns soquinhos com os nós dos dedos: se a fruta ainda estiver meio verde, o som sairá um pouco metálico. Do contrário, quanto mais surdo for o som que vier da fruta, mais madura ela estará. Comparando duas frutas do mesmo tamanho, fique sempre com a mais pesada.

Por seu tamanho excessivo, uma melancia inteira chega a ser aquisição exagerada para o consumo de uma família comum. Assim, as melancias são normalmente vendidas, nos mercados e nas feiras brasileiras, já cortadas em pedaços, quartos ou metades. Escolha, então, as bem vermelhas e brilhantes. Quanto mais escura a polpa mais doce ela será.

10.2. Como Conservar.

Fora da geladeira, a melancia se conserva bem durante uma semana, se guardada em lugar fresco e arejado. Depois de cortada, deve ser conservada na geladeira, envolvida em plástico ou papel de alumínio, para evitar que resseque ou absorva o odor de outros alimentos. Conserva-se em geladeira por 2 a 3 semanas.

Se quiser apressar o amadurecimento da fruta, basta embrulhá-la em uma folha de jornal por um ou dois dias

10.3. Receitas Tradicionais

  • Melancia fresca: A forma mais simples e popular de consumo.
  • Suco de melancia: Refrescante e hidratante.
  • Salada de melancia com queijo feta e hortelã: Uma combinação agridoce popular.
  • Gaspacho de melancia: Uma sopa fria espanhola.
  • Picles de casca de melancia: Uma conserva doce e picante.
  • Doce de casca de melancia: Uma preparação tradicional em algumas regiões.
  • Sementes de melancia torradas e salgadas: Um petisco crocante.

10.3. Receita: Sementes de Melancia Torradas

Ingredientes:

  • Sementes de melancia (1 xícara)
  • Sal (a gosto)
  • Azeite de oliva (1 colher de sopa)
  • Temperos a gosto (opcional)

Modo de Preparo:

  1. Preaqueça o forno a 180°C.
  2. Lave as sementes de melancia e seque bem.
  3. Em uma tigela, misture as sementes com azeite de oliva e sal.
  4. Espalhe as sementes em uma assadeira.
  5. Asse por cerca de 15-20 minutos, mexendo ocasionalmente, até que as sementes estejam douradas e crocantes.
  6. Deixe esfriar antes de servir.

A melancia se adapta a uma variedade de preparações, desde as mais simples até as mais elaboradas.

11. Uso Medicinal da Melancia

A melancia tem sido utilizada na medicina tradicional e moderna devido às suas propriedades. As sementes da melancia são utilizadas em algumas regiões do país no preparo de uma bebida diurética e vermífuga, denominada orchata; torradas e aplicadas sobre qualquer ferida acalmam a dor. As sementes são ricas em lípidos.

Possui excelentes propriedades diuréticas, e por isso, é recomendada aos que tem problemas renais, nas dietas de emagrecimento, para pressão alta, reumatismo ou gota.

O suco de melancia provoca eliminação de ácido úrico, além de limpar o estômago e o intestino. Também é eficaz no tratamento da acidez estomacal, obesidade, bronquites crônicas, problemas de boca e garganta – com um pouco de mel e limão, pode ser usada contra resfriados, catarros, excesso de bilis e o gosto amargo da boca.

Além disso, protege contra o câncer e a oxidação celular.

11.1. Propriedades Terapêuticas

  • Hidratante: Alto teor de água e eletrólitos.
  • Antioxidante: Rica em licopeno e outros carotenoides.
  • Diurética: Ajuda na eliminação de líquidos.
  • Fonte de citrulina: Pode melhorar a saúde cardiovascular.
  • Anti-inflamatória: Alguns compostos podem reduzir a inflamação.

11.2. Aplicações na Medicina Tradicional e Moderna

Medicina Tradicional: Utilizada para aliviar a sede, promover a diurese e tratar problemas renais leves. Assim como para curar erisipela, devendo ser aplicada uma pasta feita com polpa e casca de melancia trituradas. Para combater a febre, tome suco de melancia ou coloque fatias da fruta sobre a barriga.

Medicina Moderna: Estudos investigam o potencial do licopeno na prevenção de certos tipos de câncer e doenças cardiovasculares. A citrulina é estudada por seus efeitos na pressão arterial e no desempenho físico.

11.3. Efeitos Colaterais e Precauções

  • Por conter o aminoácido citrulina, deve ser evitada pelas pessoas que possuem artrite reumatóide e uma doença genética chamada citrulinemia.
  • O consumo moderado de melancia geralmente não causa efeitos colaterais.
  • Pessoas com diabetes devem consumir com moderação devido ao teor de açúcar.
  • A parte comestível contém apenas 6% de açúcar e 93% de água, o que faz a melancia ser um eficiente refrescante do sangue. Mas, justamente por seu alto teor de água, deve ser comida antes ou no intervalo das refeições e, nunca, após, pois pode tornar a digestão mais lenta.
  • O alto teor de água pode levar a micção frequente.
  • Em casos raros, alergias à melancia podem ocorrer.
  • O consumo de grandes quantidades de cucurbitacinas (presentes principalmente em partes não comestíveis da planta ou em variedades selvagens) pode causar problemas gastrointestinais.

12. Produtos à Base de Melancia

Além da fruta fresca, existem alguns produtos derivados da melancia.

12.1. Produtos Comerciais Derivados da Melancia

  • Suco de melancia industrializado: Amplamente disponível em supermercados.
  • Bebidas energéticas e isotônicos: Alguns produtos contêm extrato de melancia ou citrulina.
  • Cosméticos: Cremes hidratantes, loções e máscaras faciais com extrato de melancia.
  • Óleo de semente de melancia: Utilizado na indústria cosmética e, em menor escala, na alimentícia.
  • Sementes torradas embaladas: Comercializadas como um snack saudável.

12.2. Processos de Fabricação

  • Produção de suco: A polpa da melancia é triturada e o suco é extraído, pasteurizado e embalado.
  • Extração de óleo da semente: As sementes são limpas, secas e prensadas para a obtenção do óleo.
  • Produção de extratos para cosméticos: A polpa ou outras partes da planta são processadas para extrair os compostos desejados.

O desenvolvimento de novos produtos à base de melancia continua a explorar o potencial da fruta.

13. Cultivo da Melancia

O ciclo, que vai do plantio à colheita, varia de 85 a 120 dias. A melancia é cultivada em larga escala em diversas regiões do mundo.

13.1. Clima e Temperatura

A melancia requer clima quente e seco para um bom desenvolvimento e produção de frutos doces. A temperatura ideal para o crescimento varia entre 20°C e 30°C. Temperaturas abaixo de 15°C podem prejudicar o desenvolvimento da planta, e geadas são letais.

13.2. Solo

Prefere solos arenosos ou argilo-arenosos, bem drenados, férteis e com pH entre 6,0 e 6,8. Solos encharcados podem levar ao desenvolvimento de doenças radiculares.

13.3. Plantio

A melancia é geralmente cultivada por sementes, que podem ser semeadas diretamente no campo ou em bandejas para posterior transplante. O espaçamento entre as plantas e as linhas varia dependendo da variedade e do sistema de cultivo.

13.4. Irrigação

A irrigação é crucial, especialmente em regiões com baixa precipitação ou durante períodos de seca. O método de irrigação mais comum é o gotejamento ou aspersão. A necessidade de água varia ao longo do ciclo da cultura, sendo maior durante a floração e frutificação.

13.5. Adução

A adubação é importante para fornecer os nutrientes necessários ao crescimento e desenvolvimento dos frutos. Recomenda-se a análise do solo para determinar as necessidades específicas de nitrogênio, fósforo e potássio, além de micronutrientes. A adubação orgânica também é benéfica.

13.6. Espaçamento

O espaçamento típico varia de 1 a 2 metros entre linhas e de 0,5 a 1 metro entre plantas, dependendo da variedade e do método de cultivo (manual ou mecanizado).

13.7. Controle de Pragas

A melancia é suscetível a diversas pragas, como pulgões, ácaros, moscas-das-frutas, vaquinhas e nematoides. O manejo integrado de pragas, que combina métodos biológicos, culturais e químicos, é essencial para um controle eficaz.

13.8. Poda

A poda geralmente não é uma prática comum no cultivo de melancia, exceto a remoção de brotos laterais em alguns sistemas de produção para concentrar a energia no desenvolvimento dos frutos principais.

13.9. Colheita

A colheita da melancia é feita quando os frutos atingem a maturidade fisiológica, o que é indicado por sinais como a mudança na cor da parte inferior do fruto (onde toca o solo), o som oco ao bater na casca e o ressecamento da gavinha próxima ao pedúnculo. A colheita é manual.

13.10. Rotação de Culturas

A rotação de culturas é uma prática importante para reduzir a incidência de doenças do solo e pragas. Culturas não relacionadas, como gramíneas ou leguminosas, são recomendadas para a rotação com a melancia.

13.11. Condições Locais

O sucesso do cultivo da melancia depende da adaptação da variedade às condições climáticas e de solo locais, bem como das práticas de manejo adotadas pelo agricultor.

14. Curiosidades Sobre a Melancia

  • A melancia é considerada uma baga botanicamente, apesar de seu tamanho grande.
  • Existem melancias com polpa de diversas cores, incluindo branca, rosa, amarela e até azul.
  • A maior melancia já registrada pesava mais de 159 quilos.
  • No Japão, melancias quadradas são cultivadas para facilitar o armazenamento e o transporte.
  • As sementes de melancia são ricas em proteínas, ferro e zinco.
  • Segundo a obra “A farmacopéia marroquina tradicional”, os nômades e as pessoas do campo sabem empiricamente que para refrescar uma melancia, tem que cortá-la em duas partes e expô-las ao sol. O éter que se evapora esfria a melancia”
  • Dizem que no final do século IX, o professor Niels Ebbesen Hanse foi um grande explorador da biodiversidade russa a serviço da agricultura americana. Em 1898, ele levou de Moscou, da Transcaucásia, da região do Volga e do Turkistão Russo, sementes de 287 variedades de melancias e de melões almiscarados. Nos mercados dessa região, as melancias normais chegavam a pesar 15 kg.

15. Considerações Finais

15.1. Resumo dos Pontos Principais

A melancia (Citrullus lanatus) é uma fruta refrescante e nutritiva, originária da África e cultivada globalmente. Suas características botânicas incluem hábito rasteiro, folhas lobadas, flores unissexuais e frutos pepo grandes e suculentos. Rica em água, licopeno e citrulina, possui propriedades antioxidantes e hidratantes. Diversas variedades atendem a diferentes preferências de tamanho, cor e sabor. Seu cultivo é economicamente importante, e a fruta possui usos culinários variados e um significado cultural associado ao verão.

15.2. Importância da Planta para a Ciência e a Sociedade

Para a ciência, a melancia é um modelo para estudos genéticos e de melhoramento de cucurbitáceas. A pesquisa continua a explorar seus compostos bioativos e seus benefícios para a saúde. Para a sociedade, a melancia é um alimento acessível e nutritivo, importante para a segurança alimentar e a economia agrícola em muitas regiões. O desenvolvimento de práticas de cultivo sustentáveis e a valorização da diversidade genética da melancia são cruciais para garantir sua disponibilidade para as futuras gerações.

16. Fontes

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