Bacuri: Tesouro da Amazônia com Fruto Exótico

No momento, você está visualizando Bacuri: Tesouro da Amazônia com Fruto Exótico

 

1. Introdução

O bacuri (Platonia insignis Mart.) é uma árvore frutífera nativa da Amazônia brasileira, pertencente à família Clusiaceae (a mesma do mangostão e do clusião). Amplamente apreciado na região amazônica por seus frutos de sabor agridoce único e aroma intenso, o bacuri possui um grande potencial econômico, nutricional e medicinal. Sua polpa rica em nutrientes e compostos bioativos tem despertado interesse em diversas indústrias, desde a alimentícia até a cosmética. 

Este artigo visa explorar em profundidade os múltiplos aspectos do bacurizeiro e seus frutos, desde sua taxonomia e origem até suas características botânicas, composição química, usos culinários, importância econômica, cultural e ambiental, bem como as práticas de cultivo que garantem sua produção.

2. Nomenclatura do Bacuri

A correta identificação e compreensão da nomenclatura botânica são cruciais para o estudo científico e a comunicação eficaz sobre o bacuri.

2.1. Classificação Científica

O bacuri está classificado da seguinte forma no sistema taxonômico:

  • Reino: Plantae (Vegetal)
  • Divisão: Magnoliophyta (Plantas com flor)
  • Classe: Magnoliopsida (Dicotiledôneas)
  • Ordem: Malpighiales
  • Família: Clusiaceae (anteriormente Guttiferae)
  • Gênero: Platonia
  • Espécie: Platonia insignis Mart.

O “Mart.” após o nome da espécie indica o botânico Carl Friedrich Philipp von Martius, que descreveu e nomeou formalmente a Platonia insignis no século XIX, durante suas expedições pela Amazônia. O gênero Platonia é monotípico, ou seja, contém apenas esta única espécie amplamente reconhecida.

2.2. Nomes Populares do Bacuri

O bacuri é conhecido por diversos nomes populares na região amazônica e em outras partes do Brasil:

  • Brasil: Bacuri, abacuri, abricurizeiro, bacurizeiro.
  • Outras línguas (raramente utilizado): Não há nomes populares significativos em outras línguas devido à sua ocorrência primária na Amazônia brasileira.

A predominância do nome “bacuri” reflete sua importância cultural e econômica na região amazônica.

3. Origem e Distribuição do Bacuri

O bacurizeiro é uma espécie frutífera e madeireira, com centro de origem na Amazônia Oriental Brasileira, mas precisamente no Estado do Pará.

3.1. Regiões Geográficas Onde é Encontrada

O bacuri é encontrado principalmente na região norte do Brasil, abrangendo os estados do Pará, Maranhão, Piauí, Tocantins e Amazonas. Sua ocorrência é mais abundante no Pará, onde é considerado um fruto emblemático. Embora sua distribuição primária seja no Brasil, relatos indicam sua presença em áreas adjacentes da Guiana, Suriname, Peru, Bolívia, Colômbia e Equador, porém em menor escala.

A espécie é bem adaptada às condições ecológicas específicas da Amazônia oriental e central.

3.2. Tipos de Habitat

O bacurizeiro é uma árvore que ocorre tipicamente em áreas de floresta primária e secundária da Amazônia, preferindo terrenos de terra firme, bem drenados e não inundáveis (várzea). É comum encontrá-lo em:

  • Florestas de terra firme: Áreas florestais que não são periodicamente inundadas.
  • Capoeiras: Vegetação secundária que se desenvolve após o desmatamento da floresta primária.
  • Orlas de matas: Bordas de florestas onde há maior incidência de luz.

O bacuri não é encontrado em habitats como desertos, áreas costeiras salinas ou florestas de igapó (inundadas permanentemente). Sua distribuição está intrinsecamente ligada às condições florestais da Amazônia.

4. Características Botânicas do Bacuri

O bacurizeiro é uma árvore de porte médio a grande, com características botânicas distintas.

4.1. Hábito de Crescimento do Bacurizeiro

O bacurizeiro é uma árvore perene que pode atingir alturas de 25 a 35 metros, com uma copa densa e arredondada. Apresenta crescimento relativamente lento, levando alguns anos para iniciar a produção de frutos. É uma espécie heliófita, ou seja, prefere áreas com boa exposição solar para seu desenvolvimento.

4.2. Tronco

O tronco do bacurizeiro é cilíndrico, reto e robusto, com diâmetros que podem ultrapassar 1 metro em árvores adultas. A casca é espessa, rugosa, de cor marrom-acinzentada e exuda um látex amarelado quando ferida. A madeira é densa e pesada, com potencial para uso em construção civil e naval, embora não seja explorada em larga escala para esses fins.

4.3. Folhas

As folhas do bacurizeiro são simples, opostas cruzadas, grandes (15-35 cm de comprimento e 5-15 cm de largura), com formato elíptico a oblongo. Possuem uma coloração verde-escura brilhante na face superior e mais clara na inferior, com nervuras bem evidentes. 

Padrão de venação do tipo paxilato, ou seja, com nervuras secundárias copiosas, e próximas, terminando em uma nervura que acompanha toda a periferia da folha. Pecíolos curtos com comprimento variando entre 1cm e 2cm. A textura é coriácea (semelhante ao couro).

4.4. Flores

As flores são hermafroditas, constituídas de cinco pétalas de cor rósea intensa, mais raramente de coloração creme quase branca ou, ainda, com todas as tonalidades entre o róseo e o creme. Os estames estão agrupados em cinco feixes, uniformemente distribuídos, coalescentes na base, cada feixe contendo em média 82. 

A deiscência da antera é longitudinal, com abundância de grãos de pólen. O ovário é súpero, geralmente pentaloculado, contendo cada lóculo elevado número de óvulos, que apresentam placentação axial e estão dispostos em duas fileiras. O estigma é pentalobulado e, juntamente com estilete, apresentam cor verde-claro.

4.5. Frutos

O fruto é do tipo bacáceo, uniloculado, com formato arredondado, ovalado, piriforme ou achatado, nesse último caso com cinco sulcos visíveis na parte externa. Tem diâmetro de 8 a 15 cm e peso variando de 200 a 400 gramas. O epicarpo (casca) é delgado, com maior freqüência de cor amarela e mais raramente com coloração verde-amarelada, marrom-avermelhada ou mais raramente verde. 

O mesocarpo é espesso e de consistência coriácea, repleto de vasos lactíferos, exudando substância resinosa de cor amarela, quando cortado ou ferido. O conjunto formado pelo epicarpo e mesocarpo, popularmente denominado de casca, representa 70% do peso do fruto e apresenta espessura que varia entre 0,7 cm e 1,6 cm. A parte comestível é corresponde ao endocarpo, e representa 13% do peso do fruto. É de cor branca, com aroma forte e sabor adocicado e desprovido de vasos lactíferos.

4.6. Sementes

As sementes do bacuri são grandes (3-5 cm de comprimento), ovais a elipsoidais, com uma casca dura e marrom-escura. A germinação é lenta e pode levar vários meses. A propagação do bacurizeiro é geralmente feita por sementes, embora a enxertia possa ser utilizada para acelerar a produção e garantir características de variedades selecionadas.

4.7. Raízes

O sistema radicular do bacurizeiro é pivotante e profundo, o que confere à árvore boa ancoragem e acesso a água em camadas mais profundas do solo. Possui também raízes laterais bem desenvolvidas para absorção de nutrientes.

5. Composição Química do Bacuri

O bacuri é um fruto rico em diversos compostos químicos com potencial nutricional e bioativo.

5.1. Principais Compostos Químicos do Bacuri

A composição química da polpa do bacuri maduro inclui:

  • Água: Constitui a maior parte do peso do fruto.
  • Carboidratos: Principalmente açúcares como glicose e frutose, contribuindo para o sabor adocicado.
  • Lipídios: Apresenta um teor significativo de gorduras, incluindo ácidos graxos saturados e insaturados.
  • Proteínas: Em menor quantidade, mas importantes para o valor nutricional.
  • Fibras: Contribuem para a saúde digestiva.
  • Vitaminas: Rico em vitamina C (ácido ascórbico) e vitaminas do complexo B.
  • Minerais: Contém potássio, cálcio, fósforo e ferro.
  • Compostos Fenólicos: Presença de taninos, flavonoides (como catequinas e proantocianidinas) e outros compostos com atividade antioxidante.
  • Ácidos Orgânicos: Contribuem para o sabor ácido.
  • Óleos Essenciais: Presentes na polpa e na casca, responsáveis pelo aroma característico.

A composição exata pode variar ligeiramente dependendo do grau de maturação, da região de ocorrência e de possíveis variações genéticas.

5.2. Propriedades Medicinais ou Tóxicas do Bacuri

O bacuri tem sido utilizado na medicina tradicional e apresenta potencial para diversas aplicações terapêuticas, embora estudos mais aprofundados sejam necessários.

5.2.1. Propriedades Medicinais (em estudo):

  • Antioxidante: Os compostos fenólicos presentes no bacuri podem ajudar a neutralizar radicais livres, protegendo as células contra danos.
  • Anti-inflamatório: Alguns estudos preliminares sugerem atividade anti-inflamatória de extratos do bacuri.
  • Antimicrobiano: Há indícios de atividade contra certas bactérias e fungos.
  • Cicatrizante: O óleo extraído da semente tem sido tradicionalmente utilizado para cicatrização de feridas.
  • Analgésico: Em algumas comunidades tradicionais, o bacuri é utilizado para aliviar dores.

5.2.2. Propriedades Tóxicas:

Não há relatos significativos de toxicidade associada ao consumo da polpa madura do bacuri. No entanto, a semente não é tradicionalmente consumida e pode conter compostos com potencial irritante ou tóxico em grandes quantidades. Estudos específicos sobre a toxicidade da semente são limitados.

O consumo da polpa do bacuri é geralmente considerado seguro. No entanto, o uso de extratos ou outras partes da planta para fins medicinais deve ser feito com cautela e, idealmente, sob orientação profissional.

6. Variedades de Bacuri

Embora o gênero Platonia seja considerado monotípico, dentro da espécie Platonia insignis podem existir variações genéticas que resultam em diferenças fenotípicas, como tamanho e formato dos frutos, espessura da casca, cor e sabor da polpa, e produtividade.

6.1. Diferentes Variedades ou Subespécies

Formalmente, não há subespécies ou variedades distintas de bacuri amplamente reconhecidas na literatura científica. As variações observadas são geralmente atribuídas a diferenças genéticas dentro da mesma espécie e a fatores ambientais.

6.2. Características Específicas de Cada Variação

Apesar da falta de classificação formal em variedades, podem ser observadas diferenças significativas entre indivíduos de bacurizeiro em relação a:

  • Tamanho, formato e peso dos frutos: Alguns bacurizeiros produzem frutos maiores, pontudos e mais pesados do que outros.
  • Espessura da casca: A casca pode variar de relativamente fina a bastante espessa.
  • Número de sementes por fruto: Alguns frutos podem ter apenas uma semente, enquanto outros podem ter até cinco.
  • Cor da polpa: A tonalidade do branco da polpa pode variar ligeiramente.
  • Sabor e aroma: Podem existir nuances no sabor agridoce e na intensidade do aroma.
  • Textura da polpa: A cremosidade e a quantidade de fibras podem variar.
  • Produtividade: Algumas árvores são mais produtivas do que outras.

A seleção e propagação de indivíduos com características desejáveis (frutos grandes, boa polpa, alta produtividade) são importantes para o melhoramento da espécie para cultivo comercial.

7. Importância Ambiental do Bacuri

O bacuri desempenha um papel importante no ecossistema amazônico.

7.1. Papel no Ecossistema

  • Espécie nativa e componente da biodiversidade: O bacurizeiro é uma espécie nativa da Amazônia e contribui para a riqueza da flora local.
  • Fonte de alimento para a fauna: Os frutos maduros servem de alimento para diversos animais da floresta, como macacos, aves e outros mamíferos.
  • Atração de polinizadores: As flores aromáticas atraem diversos insetos polinizadores, contribuindo para a reprodução da espécie e de outras plantas da região.
  • Manutenção da estrutura florestal: Como uma árvore de porte médio a grande, o bacurizeiro contribui para a estrutura e a dinâmica da floresta amazônica.

7.2. Interações com Outras Espécies

O bacurizeiro interage com diversas outras espécies em seu habitat natural:

  • Polinizadores: Abelhas de diferentes espécies são importantes polinizadoras das flores do bacuri, sendo atraídas pelo néctar e pelo aroma.
  • Dispersores de sementes: Animais como macacos e outros mamíferos consomem a polpa dos frutos e dispersam as sementes através de suas fezes, contribuindo para a regeneração da espécie.
  • Herbivoria: As folhas e outras partes da planta podem ser consumidas por alguns herbívoros, embora a presença de látex possa ser uma defesa contra a herbivoria excessiva.
  • Microrganismos: Fungos e bactérias do solo interagem com as raízes, formando associações micorrízicas que podem auxiliar na absorção de nutrientes.

A preservação do bacurizeiro e de seu habitat é fundamental para a manutenção da biodiversidade e dos processos ecológicos da Amazônia.

8. Importância Econômica do Bacuri

O bacuri possui uma crescente importância econômica, tanto em nível regional quanto com potencial para expansão.

8.1. Usos Comerciais

  • Alimento humano: A polpa do bacuri é amplamente utilizada na culinária regional para o consumo in natura, na produção de sucos, sorvetes, doces, geleias e licores.
  • Cosméticos: O óleo extraído das sementes é valorizado na indústria cosmética por suas propriedades hidratantes, emolientes e antioxidantes, sendo utilizado em cremes, loções, sabonetes e outros produtos para a pele e cabelo.
  • Artesanato: A casca dura do fruto pode ser utilizada no artesanato local para a produção de objetos decorativos.
  • Potencial madeireiro: A madeira densa e pesada tem potencial para uso na construção civil e naval, embora sua exploração não seja comum.

8.2. Valor Econômico

O valor econômico do bacuri está em ascensão:

  • Mercado local e regional: O fruto é comercializado em feiras e mercados da Amazônia, gerando renda para extrativistas e pequenos produtores.
  • Indústria de alimentos: A demanda por polpa de bacuri para a produção de alimentos processados (sucos, sorvetes, etc.) está crescendo.
  • Indústria cosmética: O óleo de bacuri tem ganhado reconhecimento no mercado de cosméticos naturais e orgânicos.
  • Ecoturismo: O bacurizeiro, com sua beleza e importância cultural, pode agregar valor a iniciativas de ecoturismo na Amazônia.
  • Potencial para exportação: Com a crescente valorização de produtos naturais e exóticos, o bacuri e seus derivados possuem potencial para alcançar mercados nacionais e internacionais.

O manejo sustentável e o cultivo do bacurizeiro podem contribuir significativamente para a economia da região amazônica, gerando renda e promovendo a conservação da floresta.

9. Importância Cultural do Bacuri

O bacuri possui uma forte ligação com a cultura e as tradições da região amazônica.

9.1. Uso em Tradições e Práticas Culturais

Alimento tradicional: O bacuri é um alimento tradicionalmente consumido pelas comunidades indígenas e ribeirinhas da Amazônia, fazendo parte de sua dieta e de seus conhecimentos culinários.

  • Festividades locais: O fruto e seus derivados podem ter um papel em festas e celebrações regionais.
  • Conhecimento tradicional: O conhecimento sobre o manejo, os usos e as propriedades do bacuri é transmitido oralmente entre as gerações.

9.2. Significado Simbólico ou Religioso

Embora não haja um significado simbólico ou religioso amplamente difundido para o bacuri, sua importância como fonte de alimento e recurso natural na Amazônia pode conferir-lhe um valor cultural intrínseco para as comunidades locais. A abundância do bacurizeiro em certas áreas pode ser vista como um sinal de prosperidade e fartura.

10. Uso Culinário do Bacuri

O bacuri é um fruto versátil na culinária amazônica, oferecendo um sabor único e um aroma intenso.

10.1. Partes da Planta Utilizadas na Culinária

  • Polpa: A parte mais utilizada, consumida in natura ou processada em sucos, sorvetes, mousses, doces, geleias, compotas e licores.
  • Óleo da semente (uso limitado): Em algumas comunidades tradicionais, o óleo da semente pode ser utilizado em preparações culinárias em pequena escala, embora não seja comum devido ao seu sabor forte.

A casca e as folhas geralmente não são utilizadas na culinária.

10.2. Receitas Tradicionais

Algumas receitas tradicionais com bacuri incluem:

  • Suco de bacuri: A polpa batida com água e açúcar (opcional) resulta em uma bebida refrescante e saborosa.
  • Sorvete de bacuri: A polpa congelada e batida com outros ingredientes cria um sorvete cremoso e exótico.
  • Doce de bacuri: A polpa cozida com açúcar até obter uma consistência cremosa.
  • Geleia de bacuri: A polpa cozida com açúcar e pectina (se necessário) para formar uma geleia saborosa.
  • Mousse de bacuri: A polpa batida com creme de leite ou leite condensado e gelatina (opcional) resulta em uma sobremesa leve e saborosa.
  • Licor de bacuri: A polpa fermentada ou infusionada em álcool com açúcar produz um licor aromático.

10.3 Receita: Creme de Bacuri

Ingredientes:

  • 1 lata de leite condensado
  • 1 lata de creme de leite
  • 500 gr de polpa de bacuri
  • 180 gr de biscoitos tipo champanhe
  • 1 xícara (chá) de leite

Modo de Fazer:

  1. Bata no liquidificador o leite condensado, o creme de leite e a polpa de bacuri por 5 minutos.
  2. Em um refratário, arrume em camadas os biscoitos champanhe embebidos no leite e o creme de bacuri e leve à geladeira por cerca de 3 horas. 
  3. Sirva em pequenas taças individuais.

O sabor agridoce e o aroma intenso do bacuri conferem um toque especial a diversas preparações culinárias.

11. Uso Medicinal do Bacuri

O bacuri tem sido utilizado na medicina tradicional e apresenta potencial para diversas aplicações terapêuticas, conforme pesquisas preliminares.

11.1. Propriedades Terapêuticas do Bacuri

  • Antioxidante: Devido à presença de compostos fenólicos.
  • Anti-inflamatório: Observado em estudos in vitro e in vivo.
  • Antimicrobiano: Atividade contra algumas cepas de bactérias e fungos demonstrada em laboratório.
  • Cicatrizante: O óleo da semente é tradicionalmente usado para tratar feridas.
  • Analgésico: Uso tradicional para aliviar dores.
  • Antiparasitário: Alguns estudos sugerem atividade contra parasitas.

11.2. Aplicações na Medicina Tradicional e Moderna

  • Medicina Tradicional: Utilizado para tratar problemas de pele, feridas, inflamações, dores e, em algumas comunidades, como antiparasitário. O óleo da semente é especialmente valorizado para cicatrização.
  • Medicina Moderna: Pesquisas científicas têm investigado o potencial dos extratos e compostos do bacuri em diversas áreas, como antioxidante, anti-inflamatório e antimicrobiano. Estudos sobre seu potencial cicatrizante e analgésico também estão em andamento. A riqueza de compostos bioativos torna o bacuri um interessante alvo para futuras pesquisas farmacêuticas.

11.3. Efeitos Colaterais e Precauções

Não há relatos significativos de efeitos colaterais associados ao consumo da polpa madura em quantidades normais.

O óleo da semente, quando utilizado topicamente, geralmente é bem tolerado, mas testes de sensibilidade são recomendados.

O uso de extratos concentrados ou outras partes da planta para fins medicinais requer cautela e orientação profissional, pois a concentração de certos compostos pode variar.

Mais estudos clínicos são necessários para comprovar a eficácia e a segurança das aplicações medicinais do bacuri em humanos.

12. Produtos à Base de Bacuri

O bacuri é a base para uma variedade de produtos, tanto artesanais quanto industriais.

12.1. Produtos Comerciais Derivados da Planta

  • Alimentos: Polpa congelada, sucos industrializados, sorvetes, doces, geleias, licores, bombons e outros produtos alimentícios com sabor de bacuri.
  • Cosméticos: Óleo de bacuri puro ou como ingrediente em cremes hidratantes, loções corporais, sabonetes, óleos de massagem e produtos para o cabelo.
  • Artesanato: Objetos decorativos feitos com a casca do fruto.

12.2. Processos de Fabricação

  • Polpa congelada: Os frutos maduros são selecionados, lavados, a polpa é extraída mecanicamente ou manualmente, embalada e congelada para conservação.
  • Sucos industrializados: A polpa é processada com água, açúcar (opcional) e conservantes, passando por pasteurização ou outros métodos de conservação.
  • Óleo de bacuri: As sementes são secas, trituradas e o óleo é extraído por prensagem a frio ou por solventes, seguido de processos de refino para purificação.
  • Cosméticos: O óleo de bacuri é incorporado em formulações cosméticas como agente emoliente, hidratante e antioxidante. Extratos da polpa também podem ser utilizados.

A produção de produtos à base de bacuri tem potencial para crescimento, impulsionada pela valorização de ingredientes naturais e exóticos.

13. Cultivo do Bacuri

O cultivo do bacuri ainda é incipiente em comparação com outras frutíferas, mas apresenta grande potencial.

13.1. Clima e Temperatura

O bacurizeiro é adaptado a climas tropicais quentes e úmidos, com temperaturas médias anuais elevadas (22-30°C) e alta pluviosidade bem distribuída ao longo do ano. Não tolera geadas.

13.2. Solo

Prefere solos profundos, férteis, bem drenados e ligeiramente ácidos a neutros. Solos argilosos e ricos em matéria orgânica são ideais.

13.3. Plantio

A propagação é geralmente feita por sementes, mas a germinação pode ser lenta e a variabilidade genética é alta. A enxertia é uma técnica promissora para propagar variedades selecionadas e reduzir o tempo para a primeira frutificação. O espaçamento recomendado varia de 10 a 15 metros entre plantas.

13.4. Irrigação

Em regiões com períodos secos pronunciados, a irrigação pode ser necessária, especialmente durante os primeiros anos de desenvolvimento da planta e na época de floração e frutificação.

13.5. Adução

A adubação deve ser balanceada, com foco em matéria orgânica e nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, com base na análise do solo e nas necessidades da planta em diferentes fases de desenvolvimento.

13.6. Espaçamento

O espaçamento amplo é necessário para permitir o desenvolvimento da copa grande do bacurizeiro e facilitar a colheita.

13.7. Controle de Pragas

As pragas e doenças do bacurizeiro ainda são relativamente pouco estudadas em sistemas de cultivo. Monitoramento regular e práticas de manejo integrado são importantes. Algumas pragas relatadas incluem brocas e lagartas.

13.8. Poda

A poda de formação é importante nos primeiros anos para definir a estrutura da copa. Podas de limpeza e de produção podem ser realizadas em árvores adultas.

13.9. Colheita

A colheita é feita quando os frutos maduros caem naturalmente da árvore ou são colhidos manualmente quando atingem o ponto de maturação adequado. A época de colheita varia dependendo da região e das condições climáticas.

13.10. Rotação de Culturas

A rotação de culturas não é aplicável a árvores frutíferas perenes como o bacurizeiro. Sistemas agroflorestais podem ser uma alternativa interessante para diversificar a produção e promover a sustentabilidade.

13.11. Condições Locais

O sucesso do cultivo do bacuri depende da adequação das condições climáticas (temperatura e umidade), do tipo de solo e da disponibilidade de água.

14. O Bacurizeiro na História

14.1. O Primeiro Registro

O primeiro relato conhecido sobre o bacuri está no livro História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão, escrito pelo frade francês Claude d’Abbeville (?-1632) e publicado em 1614. Sua descrição da espécie, grafada como “pacuri”, é a seguinte: 

“O pacuri é uma árvore muito alta e grossa, suas folhas parecem-se com as da macieira e a flor é esbranquiçada. O fruto tem o tamanho de dois punhos, com uma casca de meia polegada muito boa de comer como doce, tal qual a pera. A polpa desse fruto é branca, parecida com a da maçã, de gosto suave; encontram-se dentro quatro nozes comestíveis”.

Outro religioso, o padre jesuíta João Daniel (1722-1776), que viveu na Amazônia entre 1741 e 1757, descreveu o bacuri. A partir de 1757 e até sua morte, o padre ficou preso em Portugal – no período da caça aos jesuítas promovida por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês do Pombal (1699-1782) – e, na prisão, escreveu um enorme tratado sobre a região amazônica, onde fez detalhadas observações: 

“A fruta bacuri, posto que tenha seus senões, também merece sua menção, pelo seu excelente gosto. A sua árvore é famosa de grande, e também o fruto é de bom tamanho… Tem a casca grossa, e para dar a casca, e se abrir a fruta, quer maço, ou requer se dar com ela em uma pedra, ou pau;” 

O Ensaio corográfico sobre a província do Pará, livro em que o militar e geógrafo português Antônio Ladislau Monteiro Baena (1782-1850) descrevia a geografia, os recursos naturais e a população paraenses, publicado em 1839, também destacou a importância do bacurizeiro, “árvore que dá fruta agridoce”. 

Segundo Baena, a espécie “tem casca acitrinada e semelhante à do piquiá” e seu lenho “serve na construção náutica”

14.2. Curiosidade

Um fato curioso sobre a fruta é relatado pelo escritor paraense Osvaldo Orico (1900-1981) em seu livro Cozinha amazônica: uma autobiografia do paladar, de 1972: o diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912), o barão do Rio Branco, famoso pela solução dos problemas de fronteira do Brasil com os países vizinhos, adotou o bacuri como sobremesa nos grandes banquetes oficiais do palácio do Itamarati, no Rio de Janeiro, em sua gestão (1902 a 1912) como ministro das Relações Exteriores. 

14.3. Agradando a Rainha

Sabe-se ainda que, em 1968, em visita ao Brasil, a rainha Elizabeth II, da Grã-Bretanha, ficou encantada com o sorvete de bacuri preparado por uma confeitaria do Rio de Janeiro, razão de diversas encomendas posteriores.

Veja também: Macaúba: A Palmeira Multifuncional do Cerrado

15. Considerações Finais

15.1. Resumo dos Pontos Principais

O bacuri (Platonia insignis) é uma árvore frutífera nativa da Amazônia brasileira, valorizada por seus frutos de sabor e aroma exóticos. Rico em nutrientes e compostos bioativos, possui crescente importância econômica nos setores alimentício e cosmético, além de potencial medicinal. Seu cultivo ainda é incipiente, mas promissor para a região amazônica.

15.2. Importância da Planta para a Ciência e a Sociedade

Para a ciência, o bacuri representa uma rica fonte de compostos químicos com potencial farmacêutico e nutracêutico. Estudos sobre suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antimicrobianas são promissores. Para a sociedade, o bacuri é um importante recurso natural e cultural da Amazônia, com potencial para gerar renda, promover o desenvolvimento sustentável e valorizar a biodiversidade da região. A pesquisa e o manejo sustentável são cruciais para aproveitar plenamente os benefícios que o bacuri pode oferecer.

16. Fontes

Deixe um comentário